CASTIGO DE ESCRAVO, DEBRET |
UM HOMEM SENSÍVEL
Andrea Bragatti é um homem rico, muito rico. Em pouco menos de trinta
anos, ele o irmão Cesare formaram um patrimônio invejável – e tudo começou com
uma fabriqueta de fundo de quintal, como se costuma dizer. Doutor Bragatti –
como Andrea gosta de ser chamado, embora não tenha concluído sequer o segundo
grau – passa o final de semana assistindo a filmes num dos telões de sua casa
de campo, enquanto saboreia queijos e vinhos de primeiríssima linha.
Doutor Braqgatti não dispensa os clássicos de faroeste nem as fitas
de ação. Não aprecia muito, contudo, as comédias. Fazê-lo rir não é tarefa
fácil. Sua preferência são os filmes que tratam da escravatura, da
discriminação sofrida por negros e imigrantes, das injustiças sociais. Chega ir
às lágrimas. “Pobres negros, pobres nordestinos, pobres imigrantes de todo o
mundo. Uma gente historicamente aviltada” – costuma repetir a quem se disponha
a ouvi-lo após um cineminha.
Quando lhe perguntam por que não há negros e nordestinos entre os
diretores de suas empresas ou por que uns e outros ganham menos que os brancos
que ocupam a mesma função na linha de montagem, Andrea explica:
-- Coitados, eles são vítimas de preconceitos seculares. Ainda hoje
pagam o preço. Mas um dia chegarão lá. Basta que continuem se esforçando. A
vitória não prescinde da luta, do esforço continuado. Definitivamente, etapas
não podem ser queimadas.
Ninguém que tenha meia dúzia de neurônios em atividade entende sua
explicação. Afinal, nada impede que Andrea promova quem merece ser promovido ou
equipare os salários de seus funcionários. Mas quem há de contrariar o gênio do
doutor Bragatti? (OS - ATUALIZADO EM FEVEREIRO DE 2017)
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