TANTO RISO, TANTA SAFADEZA (FOTO: GOOGLE) |
A NOITE EM QUE ESCAPEI DE PAGAR
A CONTA DO JANTAR COM EIKE
O magnata que vendia nuvens nunca tinha no bolso
alguns trocados para o garçom ou o flanelinha
POR AUGUSTO NUNES
VEJA.COM – 31/01/2017
Em 30 de agosto de 2010, durante a
entrevista de Eike Batista ao Roda Viva, a apresentadora Marília Gabriela quis
saber onde o entrevistado guardava a montanha de dinheiro que há dois anos lhe
vinha garantindo uma vaga no ranking da revista Forbes que agrupa os mais ricos
do planeta. “Todos os meus recursos estão todos aplicados”, enfatizou o magnata
que nunca tinha no bolso alguns trocados para o garçom ou para o flanelinha.
“Você tem alguma coisa guardada?”, entrei na conversa. “Nãããooo”, enfatizou o
entrevistado. “Meus recursos estão todos aplicados em meus projetos…”
Subitamente confuso, estacionou nas
reticências, procurou em vão o fio da meada e soltou a frase sem nexo: “Por
acaso, eu durmo bem”. Feita a ressalva amalucada, retomou o palavrório: “Mas esses
meus projetos… quer dizer… projetos bem ‘engenheirados’ pagam todas as contas.”
Aproveitei a pausa para dirimir a dúvida que me assaltara desde que conheci
Eike Batista: “Quer dizer que se a gente sair para jantar eu pago a conta?”.
Ele fugiu da resposta com um convite: “Vem comigo”. Ainda bem que não fui,
disse-me no dia seguinte um amigo que sabe das coisas e conhecia muito bem o
personagem: “Você não só pagaria a conta como, antes da sobremesa, compraria um
lote de títulos de empresas que nunca existirão”.
Naqueles tempos delirantes, com o
país anestesiado pelos farsantes no poder, Eike festejava fortunas imaginárias,
Lula comemorava o colosso de petróleo que nunca saiu do fundo do Atlântico,
Sérgio Cabral erradicara a violência nos morros e cuidava dos últimos retoques
num Rio que lembrava Pasárgada com praia e teleférico de favela. Hoje está
claro que o maior dos governantes desde Tomé de Souza, o megaempresário de
matar de inveja banqueiro alemão de antigamente e o reinventor do Rio Maravilha
eram apenas três vigaristas. Três corruptos sem vestígios de vergonha na cara.
Três incapazes capazes de tudo.
Cabral e Eike já mofam na cadeia. O
que a dupla tem a dizer vai apressar a remontagem da trinca que deve ser
qualificada pelo que sempre foi: um repulsivo caso de polícia.
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