NENÉM PRANCHA (FOTO: ARQUIVO GOOGLE) |
ARRECUA OS ARFE PARA EVITAR A CASTASTRE
Deonísio da Silva conta que, na política, o nome dos que ignoram
os
conselhos de Neném Prancha é Legião,
um dos codinomes do Diabo
DE ONDE VEM AS PALAVRAS
POR DEONÍSIO DA SILVA
VEJA.COM – 29/01/2017
Neném Prancha sabia tudo do mundo do
futebol e foi autor de frases memoráveis, mas algumas ele nunca as pronunciou.
Elas se tornaram lendárias depois que lhe foram atribuídas por João Saldanha e
Armando Nogueira.
Eis amostra grátis. “Pênalti é tão
importante que deveria ser batido pelo presidente do clube”. “Se concentração
ganhasse jogo, o time da penitenciária não perdia uma partida”. “Futebol é
muito simples: quem tem a bola ataca; quem não tem defende”. “Se macumba
resolvesse, o campeonato baiano terminava sempre empatado”. “O importante é o
principal, o resto é secundário”.
Talvez a frase de Neném Prancha de
que mais precisemos atualmente seja esta: “ Arrecua os arfe para evitar a
catastre”. E por quê? Por que no Brasil dos últimos anos esquecemos o óbvio,
ainda que ele uive e grite como o “óbvio ululante” de Nelson Rodrigues.
Seu nome era Antonio Franco de
Oliveira. Aos onze anos, o menino da cidade fluminense de Resende trocou a
cidade natal pelo Rio, onde morreu em 1976, aos 70 anos. Seu apelido era Neném
Prancha por ter, ainda em criança, pés e mãos enormes. Como vivia quase sempre
de chinelos e falava gesticulando muito, o apelido veio a calhar: plantado
sobre duas pranchas, falava abanando mais duas.
Reza a lenda que “O importante é o
principal, o resto é secundário” e “Arrecua os arfe para evitar a catastre”
foram pronunciadas num jogo em que Neném Prancha, dirigindo um time de
presidiários, já perdia de três a zero aos dez minutos. Reconhecendo a
superioridade do adversário, a estratégia do técnico deu certo e ele evitou uma
goleada maior. O importante, diante daquele time, era perder de pouco.
Na Copa de 2014, quase quarenta anos
depois da morte do famoso frasista, o técnico Luiz Felipe Scolari, o Felipão,
ignorando o conselho de Neném Prancha, dirigia a seleção brasileira na famosa
derrota de sete a um para a Alemanha. Os alemães fizeram quatro gols em seis
minutos e no final do primeiro tempo o Brasil já perdia de cinco a zero.
Laterais e zagueiros não foram recuados e a catástrofe não foi evitada.
Na política, o nome dos que ignoram
os conselhos de Neném Prancha é Legião, um dos codinomes do Diabo. Eles são uma
multidão ainda maior do que as milícias do Outro, como reconheceu o poeta
parnasiano Olavo Bilac numa de suas conferências: “As milícias de Belzebu
compõem-se, segundo os mais rigorosos demonologistas, de 6 666 legiões, cada
uma formada de 6 666 demônios”.
Por que são tantos? Um empresário de
circo, o americano Phineas Taylor Barnum, deu ainda no século XIX duas
respostas certeiras: “Nasce um otário por minuto” e “Nada atrai mais a multidão
do que outra multidão”.
O presidente Michel Temer poderia
pensar um pouco sobre o que disseram o filósofo Neném Prancha e o empresário
Taylor Barnum.
Deonísio da Silva é professor, escritor e etimologista
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