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O BACALHAU E OS MODELOS
POR CARLOS HEITOR CONY
UOL – 13/04/2004
Nos bons tempos da imprensa amadora,
o recurso mais usual para cobrir a falta de noticiário era apelar para um
anúncio que sequer era pago. Um laboratório internacional ofertara a todas as
redações o clichê de um homem levando nas costas um enorme bacalhau.
Era o anúncio do Óleo de Fígado de
Bacalhau, receitado para um povo anêmico, predisposto à tuberculose, à malária
e doenças várias.
Nenhum secretário de redação se
apertava. Havia um claro na página e o chefe da oficina ali colocava o anúncio
do homem fatigado com o seu bacalhau às costas.
A imprensa profissionalizou-se,
adotou tecnologias de ponta, a medicina também deu grandes saltos, aumentando a
expectativa de vida da humanidade.
Mesmo assim, volta e meia falta
assunto aos jornais e nenhum editor (que substitui o antigo secretário de
redação) se lembra do homem e de seu bacalhau. Abre a foto de qualquer modelo,
de biquíni ou calcinha, de alto a baixo na página, e mais espaço houvera mais
modelo haveria.
Não deixa de ser um avanço.
Pessoalmente, prefiro ver uma triatleta ou uma top do mundo publicitário, ao
homem fatigado, com o bacalhau pescado nos violentos mares do Norte e do
Báltico.
Deus é testemunha de que nada tenho
contra o bacalhau, pelo contrário, aprecio-o em suas diversas modalidades culinárias,
menos em forma de óleo extraído de seu benéfico fígado.
Evidente que uma modelo me atrai mais
e melhor. De tantas e tão excitantes, fica difícil distingui-las, todas se
parecem, as poses e os sorriso são os mesmos, mesmas as legendas que tentam explicá-las.
Enfeitam a página e enfeitam a vida.
Um dia terão o óleo de seus fígados receitados para combater anemias e
debilidades. Estudo com simpatia esta hipótese para curar meus males.
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