ILUSTRAÇÃO: ARQUIVO GOOGLE |
JORNALISMO INVESTIGATIVO
POR CARLOS HEITOR CONY
UOL
– 05/07/2005
Sou de uma geração de jornalistas que
não dava muita bola para a investigação. Nossa preocupação era apurar,
comentar. Deixávamos de bom grado a investigação para a polícia, para os
investigadores profissionais ou amadores. Não sei se era melhor ou pior: era
diferente.
De uns tempos para cá, o jornalismo
dito investigativo transformou os repórteres em detetives, cheios de macetes
para chegar ao fundo do poço, mantendo informantes que substituem com vantagem
os tradicionais alcagüetes, uma vez que ditos informantes são políticos
influentes, empresários, gente fina e por dentro dos podres da sociedade.
Verdade seja dita: alguns escândalos
suntuosos foram levantados pelo jornalismo investigativo. Mas na atual crise
que atravessamos, pegou de surpresa a excelente turma do jornalista-policial,
que comeu respeitável mosca no caso do mensalão, denunciado por alguém de fora
do esquema das redações, um deputado por sinal muito investigado pela mídia.
A dúvida é lícita: o jornalismo
investigativo comeu mesmo respeitável mosca, sabendo do mensalão, sabendo de
tudo, da compra de votos pelo PT para garantir votações no congresso, e não
botou a boca no trombone por algum motivo obscuro; ou nada sabia de nada, o que
a inocenta de qualquer manobra suspeita mas não da condição de incompetente na
investigação do que é condenável nas entranhas da política e da vida pública em
geral.
De qualquer modo, felicito-me por não
ser um jornalista investigativo. Fico no meu canto e, tal como aquele
personagem de Máximo Gorki, protesto em voz alta e me divirto em silêncio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário