terça-feira, 30 de junho de 2015

CHÁ DAS CINCO: CARMEN SILVIA PRESOTTO

Arte: Luiza Maciel Nogueira


BUSCA

dizem isso e aquilo
sobre o amor

o amor é tudo,
início, meio e,
quando verdadeiro?
sem fim…

o que mais temo
entre tantos dizeres
é, um dia, de repente,
não ter o que dizer
sobre o que está
presente em mim.

por onde leio
escuto
vivo ou escrevo
o amor distrai atrai

então,
por que me querer diferente?
por que não o apregoar mais e mais?

temo-o e o desenho:
luto por um tudo
que é além-tudo

mas dele também dizem
tanto, tanto, que me espanto.
e temo,
entre tantos dizeres,
um dia, de repente,
não o ter mais tão presente
em mim!

Carmen Silvia PresottoVidráguas.


Carmen Silvia Presotto
Carmen Silvia Presotto é Coordenadora Editorial na empresa Vidráguas.
É também autora dos seguintes livros:
Postigos: Poesia. Editora Vidráguas, 2010.
Encaixes: Poesia. Editora Vidráguas, 2006.             
Dobras do Tempo: Poesia. Editora Alcance, 2003.
              

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CLÁUDIO – AGORA S. PAULO



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FERNANDES – DIÁRIO DO ABC (SP)



JORNAL DA BESTA FUBANA







CLÓVIS CAMPÊLO

FOTOGRAFIA: CLÓVIS CAMPÊLO


MELANCOLIA

Já não existem mansardas,
apenas o vulto de um alto
edifício
a olhar a cidade que cresce
vertical.

Vertiginoso, aos seus pés,
um rio persegue caudaloso
o tempo incessante.
Uma tristeza feita de pedras
me invade.

Solidifico-me e concebo
mais um poema
ausente de equilíbrio,
repleto de sangue
e signos.


Recife, 1991 

segunda-feira, 29 de junho de 2015

RAPIDÍSSIMAS (XC)

INTERNET

DO VELHO MARINHEIRO

Ananias: a desgraça nunca anda só, está sempre com más companhias.

CHÁ DE CADEIRA

Nunca chega no horário combinado. Hábito, mania? Não. Falta de educação.  

INÚTIL

Era tão perfeccionista que jamais conseguiu concluir um trabalho.

MENOS PAPO, MAIS AÇÃO

Quem anuncia não faz.

PROMESSA

Deus não é adepto do escambo.

WORKAHOLIC


Aquela trabalheira insana não lhe rendia um centavo, mas foi a forma (insana) que ela encontrou para se sentir útil.

CONSCIÊNCIA

No fundo, é o único julgamento que interessa.

ESPELHO FAZ FALTA

Se você ridiculariza pessoas por conta de sua (delas) opção sexual, cor, baixa escolaridade, religião etc., tenha certeza: o palhaço é você.





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QUASE HISTÓRIAS (LIII)

Imagem: YouTube


O GALO SE FOI

Como podia, num lugar daquele, prédios de um lado e outro, alguém ter galo? É certo que algumas casinhas, poucas, muito poucas, com quintal, resistiam ao assédio das incorporadoras. Sorte do galo. Azar o meu. Acordava às quatro com o galo madrugador. Cansei, resolvi dar o troco. Acordava antes das quatro, imitava o galo para o galo acordar. Ele retrucava. Vigoroso. O dono do galo se foi. Os filhos venderam a casa. O galo, dizem, virou prato. E eu não canto mais pra seu ninguém. 


NO DIVÃ DO PACOVÁ

- É insuportável estar certo, sempre certo, doutor. Até porque certo de tudo ninguém está. Nem o senhor.

-- Lamento muito lhe dizer isso, Almerindo: vamos ter que continuar com as sessões.

***

-- Almerindo, Almerindo: posso, se tanto, dar um jeito nessa sua cabeça arruinada. Nada mais que isso, meu caro. Agora, quando, na sua idade, a mulher (de anos) quer discutir a relação... Melhor procurar um especialista em impotência. Viagra talvez resolva. Não sei.

***

-- Almerindo, você confunde muito as coisas. Não sou eu a pessoa mais indicada pra lhe dizer de qual cor você deve pintar esses cabelos ralos. Francamente. Acaju ou preto retinto? Sei lá. Pergunte a seus colegas, à sua amante...

-- Sua amante, não! Ele é homem de respeito. E viril. PM da Rota.



GLÓRIA BRAGA HORTA


www.soniamoura.com.br

MEL E FEL

Abençoada terra de sol, lua e mar,
e céu pleno de glória a emitir luz divina.

Não há por que ser triste nem por que chorar
se espírito e corpo habitam esta mina.

Entretanto, ainda reina potente violência
a gritar noite e dia na terra do mel,
transformando esse néctar de pura essência
no diabólico líquido amargo do fel.

O que querem os homens que seguem o mal?
o pesado metal é inútil nos Céus…
e brevíssimo é o voo da escala final.

E a maldade não vinga no sublime espaço,
sempiterno presente criado por de Deus,
a soberana força a dar-nos regaço.

FALA, OTÁVIO

O GOLEIRO

Otávio Nunes é jornalista

(Por Otávio Nunes) O fogo começou no térreo do pequeno prédio e aos poucos se estendeu até o terceiro e último andar. As pessoas que estavam dentro começaram a sair até que em certa ordem, na medida do possível. A última delas foi a babá que tomava conta do bebê da família que morava no terceiro andar. Quando chegou embaixo, ela percebeu que tinha esquecido o garoto dormindo no berço. Um berreiro só. Mas ninguém deixou que a moça voltasse para o meio das chamas.

Logo depois apareceu o carro do corpo de bombeiros, com apenas um homem, o mesmo que dirigia. Ele ativou a escada, subiu e chegou à janela do terceiro andar. Assim que entrou, caiu no chão, dentro do apartamento e quebrou o ombro. Mesmo assim pegou o bebê com o braço bom e foi à janela avisar que não conseguiria descer a escada carregando o menino. Entretanto, não havia ninguém, dotado de coragem para escalar a escada e ajudar o bravo herói com um braço inutilizado.

Um jornalista que acompanhava o caso da calçada teve a maravilhosa ideia, caso não muito comum entre estes profissionais, de chamar o Pereba para salvar o bebê. Antigo morador das imediações, Pereba foi um dos maiores goleiros de seu tempo. Disputou três eliminatórias para a Copa do Mundo e participou de duas como titular da seleção.

Seu apelido vinha do machucado que ele tinha desde moleque na região glútea, fronteiriça à coxa direita. Nenhum médico, ungüento ou benzedeira fora jamais capaz de curar aquela ferida, que ele, abnegado, ainda suportava.

Mesmo assim, tornara-se um portento embaixo do gol. Durante sua carreira de quase vinte anos de futebol, pegara mais de uma centena de pênaltis, contando somente aqueles ocorridos com a bola rolando, metade com a camisa da seleção e o restante com a do único time que defendera.

Sua fama o transformara numa lenda viva dos gramados. Atacantes, candidatos a artilheiros nos campeonatos, não gostavam de jogar contra o time de Pereba, pois temiam perder tempo e se cansar à toa.

O único centroavante que costumava balançar as redes de Pereba era o Broto, nome que recebeu por seus dotes físicos. Os comentaristas de futebol, que naquela época ainda eram poucos e inteligentes, não conseguiam entender porque Broto fazia tantos gols em Pereba, muito mais que os outros atacantes. Alguns anos mais tarde, quando ambos os dois penduraram suas chuteiras, foram morar juntos, em frente ao prédio que, agora, ardia em chamas.

Pereba chegou ao incêndio trajando camisa da seleção, calção do seu time e luvas vermelhas. Posicionou-se embaixo da janela e soltou seu famoso brado, que em sua época assustava seus zagueiros, “deixa comigo, pode jogar o moleque que eu pego”.

O bombeiro, que suava sem saber se era por causa do fogo ou do seu ombro fraturado, jogou o menino janela abaixo. Pereba voou, fez uma ponte sensacional, daquelas que ligam as margens de um rio largo, segurou o bebê e caiu mansamente na calçada de modo a não machucar a “bola”.

Levantou-se com a criança na mão, sorrindo-lhe. Olhou para a frente e viu o público aplaudir sua extraordinária defesa. Então, Pereba coçou levemente sua ferida eterna e imaginou que aquelas pessoas fossem jogadores no campo. Uma delas, de camisa preta, devia ser o juiz, pois quando Pereba jogava os árbitros usavam esta cor.   

Ergueu a cabeça e viu que as pessoas esperavam um gesto dele. Jogou o neném para cima, um pouco além de sua cabeça, esperou cair e chutou para frente. “Esta é pro ponta-direita.”




domingo, 28 de junho de 2015

CARICATURAS: BAPTISTÃO (2/2)




CHICO ANYSIO


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RITA LEE



lazaroramos1
GILBERTO GIL



GUGA



 
JOAQUIM BARBOSA


MARIA BETHÂNIA


CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE



Eduardo Baptistão é um ilustrador brasileiro. Ele trabalha no Grupo Estado, é colaborador fixo das revistas Veja e Você S/A, além de ser colaborador da revista Carta Capital. Entre os diversos prêmios que já recebeu, estão: Salão Internacional de Humor de Piracicaba (cinco ao todo), Salão Internacional de Desenho para Imprensa de Porto Alegre, Salão Internacional de Humor do Piauí, 7th Tehran International Cartoon Biennial (Irã), World Press Cartoon (Portugal, dois prêmios) e Fadjr International Cartoon & Caricature. Além disso, também foi eleito melhor caricaturista brasileiro pelo Troféu HQ Mix cinco vezes: em 2002 e de 2005 até 2008. (WIKIPEDIA)





Para ver outras caricaturas de BAPTISTÃO, clique no link abaixo:
 

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AUTO_amarildo
                                                               AMARILDO – A GAZETA (ES)






AUTO_luscar
LUSCAR – CHARGE ONLINE


AUTO_jb
JORGE BRAGA – O POPULAR (GO)


migueljc
MIGUEL – JORNAL DO COMMERCIO (PE)



clayton
CLAYTON – O POVO (CE)



involução
MARCO MARTIM


AUTO_cazo
CAZO – COMÉRCIO DO JAHU (SP)



AUTO_gilson
GILSON – CHARGE ONLINE



JORNAL DA BESTA FUBANA




QUASE HISTÓRIAS (LII)

CAMARGO


EMERGENTES

Mulher e marido ganhavam bem, muito bem. Mas era notório que se amavam pouco, muito pouco. Gastavam o tempo consumindo tudo o que estivesse na moda e se exibindo ante seus convidados pobretões. A falsa modéstia fazia parte do script. Não suportavam ficar a sós.

Os convidados se fingiam de mortos. Boa bebida e boa comida, de graça, amolecem corações, embotam cérebros. Mas não impedem que os “ingratos” falem mal pelas costas horas depois. Mas essa é outra história.

Ela afetava pobreza inexistente, para ressaltar a pobreza alheia. Ele jurava admirar a preferência dos visitantes por carros populares. E garantia que, um dia, compraria um carrinho básico e usado. Para ir à feira, claro.


SÍLVIO SANTOS: TARADO

Calma, gente: não acho isso, não. Quem achava era a avó do Dias, amigo do peito do pai, morta 500 anos atrás. A velha senhora morava no Rio com a filha mais velha. A tevê engatinhava no Brasil. Mas Sílvio Santos já era “coisa nossa”, aos domingos. Como o macarrão, a galinha e o pêssego em caldas.

A velha senhora ia onde a levavam. A filha, às vezes, vinha a São Paulo rever os irmãos. E trazia a mãe, evidentemente. E aí começava o problema. Aqui, como lá, aos domingos, o ritual se repetia: macarrão, frango, tubaína, pêssego em caldas e “SS vem aí”...

A velha senhora não se continha. E alertava a filha, diante da televisão ligada:

-- Estique a saia, menina. O tarado não tira os olhos de suas pernas. A gente sai do Rio, vem pra São Paulo, mas ele não desgruda de suas partes baixas. Vagabundo. Do Baú não compro nada. 


sábado, 27 de junho de 2015

CARICATURAS: BAPTISTÃO (1/2)




LUIS FERNANDO VERÍSSIMO


LENINE



IVETE SANGALO



JÔ SOARES



PE. MARCELO ROSSI



CHICO BUARQUE



Eduardo Baptistão é um ilustrador brasileiro. Ele trabalha no Grupo Estado, é colaborador fixo das revistas Veja e Você S/A, além de ser colaborador da revista Carta Capital. Entre os diversos prêmios que já recebeu, estão: Salão Internacional de Humor de Piracicaba (cinco ao todo), Salão Internacional de Desenho para Imprensa de Porto Alegre, Salão Internacional de Humor do Piauí, 7th Tehran International Cartoon Biennial (Irã), World Press Cartoon (Portugal, dois prêmios) e Fadjr International Cartoon & Caricature. Além disso, também foi eleito melhor caricaturista brasileiro pelo Troféu HQ Mix cinco vezes: em 2002 e de 2005 até 2008. (WIKIPEDIA)




CHARGES: DIRETO DA "BESTA"



ALPINO

ALPINO – BLOG DO ALPINO


27-2
SINOVALDO – JORNAL NH (RS)



AUTO_son
S. SALVADOR – ESTADO DE MINAS



AUTO_nicolielo
NICOLIELO – JORNAL DE BAURU


JORNAL DA BESTA FUBANA




QUASE HISTÓRIAS (LI)



DUAS PRIMAS EM PARIS

Papais e mamães gastaram nota preta para que as meninas passassem um ano na Europa. Imaginavam, porque todos lhes diziam isso, que intercâmbio cultural é o máximo para quem pretende ascender na vida. Coisa de gente do “primeiro mundo”. Ricos não eram, mas queriam o bem das meninas. Não pouparam esforços para lhes fazer a vontade. Fizeram.

E as meninas, duas primas, voltaram deslumbradas com o que viram, após um ano de Europa.

-- Gente, lá é demais, demais mesmo. Tem cada feirinha de artesanato. É de arrepiar – repetia Clarinha a cada cinco minutos.

Norminha, mais sofisticada intelectualmente que Clarinha, adora culinária:

-- A melhor pizza é a da Itália. Muito boa mesmo.

Alguém quis saber o que tinham achado dos museus. Não acharam nada. Não tinham ido a nenhum deles.

-- Você acha mesmo que a gente ia gastar uma grana alta, para ver coisa velha? – respondeu Clarinha, com o endosso entusiasmado de Norminha.

Os pais concordaram com as meninas: “Ora, se é para gastar fortuna para ver coisa antiga, melhor ir ao museu do Ipiranga. Ou não?”



NÚBIA NONATO

Núbia Nonato


DA CRIAÇÃO

Nascemos pela misericórdia de um ato  de amor ou na maioria
das vezes da casualidade  onde nos tornamos "acidentes".

Crescemos na medida e atenção de um olhar mais
generoso, cheio de cumplicidade ou simplesmente atirados
ao léu, nos espalhamos  que nem hera.

Driblamos os reveses de uma adolescência complicada que
nos atordoa, mas que diante de uma mão atenciosa nos permite
a preciosidade de um colo ou nos jogamos na vida e confusos
aviltamos nosso corpo, ávido de experiências, com abuso de drogas e
promiscuidade.

Adultos nos relacionamos atentos, íntegros, nos envolvemos em
nome de sentimentos nobres consolidando através de laços fortes
uma  família ou nos aninhamos feito bichos que com garras
afiadas consomem a melhor parte da refeição deixando os restos para
a cria que se arrasta sobre seu próprio corpo, mas que busca através do
olhar choroso, do desespero, o amparo daquele que ruge e rumina e que
às vezes se permite chamar pelo nome de pai ou  de mãe...

Conscientes ou não, responsáveis ou não, a todos nós foi dada uma
escolha, uma chance de ultrapassar através de uma fome que sustenta
a nossa essência, as interrogações que ou confrontamos ou aninhamos
em nome da covardia e da comodidade de quem não ousa levantar sequer
os olhos para enxergar além de si mesmo.