sexta-feira, 6 de outubro de 2017

QUASE HISTÓRIAS: A DÚVIDA DE LEONOR

Resultado de imagem para IMAGENS MULHER PENSATIVA
Óleo sobre tela de Jozsef Ronai

Mal terminado o sepultamento de Aristides, filhas e filhos, noras e genros começaram a pressionar a viúva. Uns queriam levá-la para a casa de qualquer um deles. Ante a recusa peremptória de Leonor, outros passaram a oferecer à mãe/sogra netos para lhe fazer companhia ao menos nas primeiras noites. O que não tinha o menor cabimento era deixá-la sozinha, onde já se viu uma coisa dessas? Leonor fincou os pés: “Agradeço a todos. Mas quero ficar só.” E assim foi feito, contra a vontade geral.

Após o banho, Leonor tomou café com leite – a bebida de que mais gosta –, engoliu qualquer coisa para distrair o estômago e sentou-se na sua poltrona. As lembranças vinham aos pulos, sem qualquer coerência cronológica.

Ela sempre teve muito respeito e carinho por Aristides, homem trabalhador e afetuoso. Juntos, viveram inúmeros bons momentos; unidos, venceram as adversidades. Passado algum tempo, levantou-se, dirigiu-se à vitrola, separou o vinil e colocou para rodar sua música predileta. Teria sido mais feliz com Antônio? 

(OS - atualizado em outubro de 2017)  


4 comentários:

  1. Dúvida atroz.... Muito bom! Adorei amigo Orlando Silveira!

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    1. Obrigado, Vólia. O pessoal tem curtido muito seus poemas. Abração.

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  2. Dúvida que nos acomete, de vez em quando, até mesmo antes da morte do parceiro! A eterna insatisfação do ser humano! A impossível "completude"!

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