Óleo sobre tela de Jozsef Ronai |
Mal terminado o sepultamento de Aristides, filhas e filhos, noras e
genros começaram a pressionar a viúva. Uns queriam levá-la para a casa de
qualquer um deles. Ante a recusa peremptória de Leonor, outros passaram a
oferecer à mãe/sogra netos para lhe fazer companhia ao menos nas primeiras
noites. O que não tinha o menor cabimento era deixá-la sozinha, onde já se viu
uma coisa dessas? Leonor fincou os pés: “Agradeço a todos. Mas quero ficar só.”
E assim foi feito, contra a vontade geral.
Após o banho, Leonor tomou café com leite – a bebida de que mais
gosta –, engoliu qualquer coisa para distrair o estômago e sentou-se na sua
poltrona. As lembranças vinham aos pulos, sem qualquer coerência cronológica.
Ela sempre teve muito respeito e carinho por Aristides, homem
trabalhador e afetuoso. Juntos, viveram inúmeros bons momentos; unidos,
venceram as adversidades. Passado algum tempo, levantou-se, dirigiu-se à
vitrola, separou o vinil e colocou para rodar sua música predileta. Teria sido
mais feliz com Antônio?
(OS - atualizado em outubro de 2017)
Dúvida atroz.... Muito bom! Adorei amigo Orlando Silveira!
ResponderExcluirObrigado, Vólia. O pessoal tem curtido muito seus poemas. Abração.
ExcluirDúvida que nos acomete, de vez em quando, até mesmo antes da morte do parceiro! A eterna insatisfação do ser humano! A impossível "completude"!
ResponderExcluirÉ isso mesmo, Marlene.
ResponderExcluir