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BÊBADO:
O
AMADOR E O PROFISSIONAL
Por Mario
Prata
Revista Vogue
07/05/2002
Sim, minha amiga, existem os amadores e os
profissionais. E são facilmente reconhecidos. Pra começar, o profissional está
sempre penteado. Despenteou, esteja certa de estar diante de um bêbado amador.
O amador é chato. E não tem exceção. Ele
pode até não ser chato quando sóbrio. Mas passou de terceira dose, é dose.
Não sei como, mas o bêbado profissional nem
hálito etílico exala. Pelo contrário, chega a ser até perfumado. Já o bafo do
amador chega até mesmo antes dele. Pior que hálito de bêbado amador, só mesmo
de bêbada amadora. É mesmo uma desgraça.
O profissional jamais – jamais! – bate em
mulher. Pelo contrário, chega com fala mansa e diz palavras leves. Geralmente
leva. Apareceu falando alto, te cuida, é amador.
O BP (vamos chamar assim o bêbado
profissional) sempre chega em casa dirigindo sem bater. Não se lembra como, é
claro, mas chega. O BA nem acha o carro. E nem se lembra no dia seguinte.
Acorda tentando reconstituir a noite para saber em que gole ficou a viatura.
BP que se preza jamais fala no ouvido da
gente e muito menos coloca a mão no ombro da pessoa a quem se dirige. Já o BA é
especialista em ouvidos, ombros e – mais tarde – colos. Também costuma
conversar segurando na sua mão, seja homem ou mulher.
Quando um deles vem chegando com aquele
olhar de bebum, basta olhar nos sapatos. O do BP está limpo. Do BA está –
inclusive – desamarrado.
No tempo em que eu bebia – e me considerava
profissionalíssimo – um conhecido escritor e BP foi até a minha casa. Servi um
uísque para nós dois e ele perguntou:
– Quantas garrafas você tem em casa?
Diante de tal pergunta imaginei que ele
fosse mamar (BP odeia essa expressão) mais que uma.
– Mas essa está cheia!..
– Você é amador! – e deu uma golada e uma
gargalhada. – Amador! E eu que te considerava um profissional…
Fiquei indignadamente sóbrio:
– Como amador??? Como???
– Meu querido, um profissional do álcool não
tem apenas uma garrafa em casa.
– Bem, eu tenho mais uma guardada.
– Oito, meu filho, oito!!! Um bom bebedor
tem que ter no mínimo oito garrafas em casa. E da mesma marca.
– Mas eu não bebo nem uma por dia…
Ele, se servindo de mais uma dose:
– Pois é aí que mora o perigo, a culpa! Veja
essa garrafa. Você fica bebendo e vendo ela se esvaziar rapidamente. De manhã
ela estava cheia, de tarde já pela metade. De noite vazia. Ou seja, você fica
bebendo e vendo o quanto você bebeu! Dá culpa, você se sente um alcoólatra. Se
fosse um profissional, teria uma aqui na mesinha, outra ao lado do computador,
outra no criado-mudo, na cozinha, na sala de jantar, uma perto da biblioteca e
até uma no quarto das crianças. Não é a garrafa que deve circular pela casa. E
sim o copo. E você. Assim, meu querido amador, você não sente a garrafa se
esvaziando em algumas horas, na sua cara, te dedando, te culpando. Cada uma que
você pega estará sempre quase cheia. E não dá culpa. Pensando bem, você nem
percebe que está de pilequinho. Me serve outra. Olha aí, já bebemos metade.
Assim não é possível! Faça-me o favor!
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