quarta-feira, 11 de outubro de 2017

POLÍTICA/OPINIÃO: LUIZ FLÁVIO GOMES

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MINEIRINHO DE "GRANDE VALOR"
Por Amarildo

SUPREMO DE VERDADE
OU PUXADINHO DAS FORÇAS CORRUPTAS?

O STF pode ou não pode afastar parlamentares que se tornam delinquentes? Ele pode ou não aplicar medidas cautelares
contra esses “heróis” que se convertem
em “quadrilheiros da República”?

Por Luiz Flávio Gomes
11/10/2017

O senador Aécio Neves (cacique e presidente afastado do degenerado PSDB) foi gravado (março/17) pedindo R$ 2 milhões para Joesley (JBS), que confirmou tratar-se de propina.

Sua irmã negociou a entrega do dinheiro, seu primo o recebeu e uma terceira pessoa o escondeu. Os três foram presos, localizando-se quatro malas contendo R$ 500 mil cada uma.

O roubo do senador, como se vê, foi exitoso (corrupção bem tramada, entrega do produto do crime em quatro malas, todas filmadas). Pela lógica de Esparta, o roubo exitoso não pode ser censurado (ou condenado).

Hoje, no STF, o que está em jogo é o seguinte: ele é um órgão independente da Justiça e do império da lei para todos ou é um puxadinho das forças corruptas e parasitárias que comandam a cleptocracia brasileira (cleptos = ladrão; cracia = governo, poder)?

Ele pode ou não pode afastar parlamentares que se tornam delinquentes? Ele pode ou não aplicar medidas cautelares contra esses “heróis” que se convertem em “quadrilheiros da República”?

O recolhimento noturno do senador é discutível. Mas seu afastamento decretado pelo STF(Primeira Turma) é absolutamente imperioso.

A vitória, afinal, será da República ética (mais sonhada que concretizada) ou da bandidagem parasitária que se vale dos cargos públicos para delinquirem impunemente, com o acobertamento da Corte Suprema?

“O STF pode ou não pode afastar parlamentares que se tornam
delinquentes? Ele pode ou não aplicar medidas cautelares
contra esses “heróis” que se convertem
em “quadrilheiros da República”?

Na cleptocracia brasileira as forças corruptas e parasitárias (tanto as visíveis quanto as invisíveis) são regidas pela lógica de Esparta, onde os adolescentes eram treinados para surrupiar a coisa alheia. Num monte afastado da cidade, eles eram treinados e propositadamente privados de alimentação. Quando estavam prestes a explodir tudo, eram mandados para a cidade, para roubar a população. O roubo exitoso nunca era punido; punição dura havia somente quando o roubo resultava frustrado (por incompetência, inabilidade ou pouca astúcia).

Depois daquela gravação feita por Joesley, Aécio foi afastado das suas funções pelo ministro Fachin. O ministro Marco Aurélio, seguindo a lógica de Esparta, revogou o afastamento, sublinhando que um poder não pode interferir no outro. O roubo do senador do PSDB, afinal, tinha sido exitoso.

Marco Aurélio ainda acrescentou que se trata de um político com “fortes elos com o Brasil, que tem carreira política elogiável”. Um político de longa carreira, elogiável!

Nas cleptocracias (instituições dominadas por ladrões), os larápios poderosos e exitosos são tratados de maneira desigual e privilegiada. Mesmo corruptos, são sempre elogiados e acobertados. Delcídio não foi exitoso, foi preso e perdeu o cargo. Cunha não foi exitoso, perdeu o cargo e foi preso.

Aécio sempre “discursou” contra a corrupção (cinicamente, claro) e recebeu mais de 51 milhões de votos em 2014. É uma grande liderança do venerado PSDB e continua tendo êxito em suas empreitadas criminosas.

Pela lógica de Esparta, é um mineirinho de “grande valor”. Daí o apoio que está recebendo de vários senadores e do próprio PSDB. Resta saber se o Pleno do STF vai embarcar nessa nave espartana.

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Luiz Flávio Gomes (Portal FGV)
Luiz Flávio Gomes é Doutor em Direito Penal pela Faculdade de Direito da Universidade Complutense de Madri (2001) e Mestre em Direito Penal pela Faculdade de Direito da USP (1989). Criador do movimento “Quero um Brasil Ético”. Jurista e professor em vários cursos de pós-graduação nacionais e internacionais, entre eles a Facultad de Derecho de la Universidad Austral, Buenos Aires (Argentina), já tendo publicado mais de 57 livros na área jurídica. É também membro da Comissão de Reforma do CP e Professor Honorário da Faculdade de Direito da Universidad Católica de Santa María (Arequipa/Peru). Atuou como Promotor de Justiça em São Paulo, de 1980 a 1983; Juiz de Direito, de 1983 a 1998; e Advogado, de 1999 a 2001. (http://luizflaviogomes.com/)


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