DORIA
E O UMBUZEIRO
Tão
importante quanto saber descer do umbuzeiro
é
controlar a hora de voltar a subir nele.
Por Jose
Roberto de Toledo
Estadão
– 09/10/2017
Saber
quando descer do umbuzeiro é a grande lição do maior gênio político brasileiro.
Seu melhor biógrafo, Lira Neto exaltou-lhe a importância ao contá-la logo na abertura
da trilogia sobre Vargas. Aos 13 anos, o pequeno Getúlio aprendeu a esperar a
hora certa. Após espatifar retrato do principal ídolo paterno, escondeu-se na
árvore mais frondosa da estância da família. Trepado, tiritou de frio noite e
dia, até garantir que a surra certa pelo pai virasse recepção carinhosa da mãe.
Em vez do relho, beijos.
Manipular
o tempo e a expectativa das pessoas para fazer-se desejado é algo que políticos
aprendem por bem ou na marra. Os indecisos se atrasam e perdem a oportunidade.
Os ansiosos se antecipam e queimam a largada. Os incautos se esborracham.
Faz
um ano, João Doria foi o grande vencedor da mais superlativa eleição já
disputada no Brasil. Entre centenas de milhares de candidatos a prefeito e
vereador, teve a maior votação e dispensou 2º turno – fato inédito para um
prefeito paulistano. Virou símbolo da antipolítica e de um retrofit de fachada.
No cangote da renovação, galgou o umbuzeiro mais rápido e alto do que seus
avalistas no PSDB poderiam e gostariam de imaginar.
Sem
paciência para esperar, Doria furou a fila tucana e fez do padrinho padrasto. O
mesmo Alckmin que o ajudara a ganhar as prévias do partido na eleição
paulistana virou rival. Prevendo derrota entre correligionários, o prefeito
lançou-se em campanha Brasil adentro. Pressionando por fora o PSDB a escolhê-lo
candidato a presidente, pediu pesquisas de opinião em vez de prévias. Mas o
galho em que Doria pisou mostrou-se fino demais.
Após
três meses, a fantasia de gari de fim-de-semana começou a desbotar. O “buzz”
nas mídias sociais caiu à metade, depois a um quarto, antecipando o que viria a
ser confirmado nas pesquisas. Doria tem tanto ou menos intenção de voto do que
Alckmin no Datafolha. Pior para ele, a maioria dos paulistanos não o quer
candidato, mas prefeito. Se é para sair, que fosse a governador. Sua
popularidade entrou em declínio. Perdeu o momentum.
Ilustração: Aroeira |
Doria
reage mal no contratempo. Bateu boca com um ex-comensal de 80 anos que ele
agora chama de “velho”, “fracassado” e “de pijamas”. É briga na qual se perde
mesmo quando se ganha. Além de revelar destempero, o presidenciável deu munição
para os inimigos. Eles imediatamente truncaram seu vídeo contra Alberto Goldman
e o transformaram em uma declaração que parece se voltar contra todos os
desempregados e aposentados do país. Viralizou.
“Quando
a circunstância não se mostrar garantida, o melhor a fazer é esperar, resistir,
transformar o tempo em aliado. Jamais descer do umbuzeiro antes da hora”. A
sentença de Vargas segue atual. Não apenas para Doria, mas para todos os
candidatos a candidato a presidente. Não basta exibir qualidades demandadas
pelo eleitorado. É preciso dominar o timing da eleição.
Quem
se expõe cedo demais apanha por mais tempo. Com Doria em queda, aumentarão as
especulações sobre quem tem a ganhar com a sua precipitação do umbuzeiro.
Alckmin e Doria dividem uma parte dos respectivos eleitorados, mas a
sobreposição não significa que haverá uma transferência automática do restante
de um tucano para o outro. Basta ver como o MBL trata prefeito e governador no
Facebook: impulsiona 11 vezes mais Doria do que Alckmin.
Outro
que espera se beneficiar, porque também tem parte do eleitorado em comum, é
Bolsonaro. Mas o deputado e favorito das corporações armadas também entrou na
linha de tiro (retórico). Além dos dois, abre-se a porta para um terceiro virar
novidade.
Tão
importante quanto saber descer do umbuzeiro é controlar a hora de voltar a
subir nele.
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