quarta-feira, 23 de setembro de 2015

XICO BIZERRA

serpentina

CARNAVAL QUE PASSA


Desceu na Guararapes, bem em frente ao Trianon. Como sempre fazia. Dali, pegou a ponte que vai dar no São Luiz e dobrou à direita, pela rua da Aurora, à beira do Rio. O vento assanhava seu cabelo e a beleza da paisagem fazia-lhe esquecer o carnê não pago, a televisão quebrada e o desemprego de João, seu marido. Como se estivesse no paraíso, andava pelas calçadas da Aurora, sem tempo de ficar triste. Foi quando se deu conta de que o celular, cujo carnet estava atrasado tanto quanto a conta mensal, já não mais lhe pertencia. Alguém mais esperto dele apoderou-se no trajeto Bomba do Hemetério, centro do Recife. Nem deu tempo de ficar triste. Os blocos de carnaval já começavam a tocar seu frevos de bloco e a tristeza das letras era mais triste que a sua história. Sentou-se no primeiro banco e ficou a sorrir, vendo o carnaval passar. Tentou ligar pra João. Estava sem celular. (XICO BIZERRA)


Xico Bizerra é compositor, poeta, 
cronista e produtor musical.
Tem mais de 270 composições gravadas

http://www.forroboxote.com.br/

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