CARNAVAL
QUE PASSA
Desceu na Guararapes, bem em
frente ao Trianon. Como sempre fazia. Dali, pegou a ponte que vai dar no São
Luiz e dobrou à direita, pela rua da Aurora, à beira do Rio. O vento assanhava
seu cabelo e a beleza da paisagem fazia-lhe esquecer o carnê não pago, a
televisão quebrada e o desemprego de João, seu marido. Como se estivesse no
paraíso, andava pelas calçadas da Aurora, sem tempo de ficar triste. Foi quando
se deu conta de que o celular, cujo carnet estava atrasado tanto quanto a conta
mensal, já não mais lhe pertencia. Alguém mais esperto dele apoderou-se no
trajeto Bomba do Hemetério, centro do Recife. Nem deu tempo de ficar triste. Os
blocos de carnaval já começavam a tocar seu frevos de bloco e a tristeza das
letras era mais triste que a sua história. Sentou-se no primeiro banco e ficou
a sorrir, vendo o carnaval passar. Tentou ligar pra João. Estava sem celular. (XICO BIZERRA)
Xico Bizerra é compositor, poeta, cronista e produtor musical. Tem mais de 270 composições gravadas http://www.forroboxote.com.br/ |
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