quarta-feira, 9 de setembro de 2015

COISAS DA VIDA

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A COMADRE

(Por Violante Pimentel) Durante a vigência do amplo programa cooperativo “Aliança para o Progresso”, proposto oficialmente pelo então Presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, no seu discurso de 13 de março de 1961, muitas coisas aconteceram no Rio Grande do Norte, incluindo coisas boas e também hilárias.

Esse programa foi lançado durante uma recepção aos Embaixadores latino-americanos, na Casa Branca, e visava acelerar o desenvolvimento econômico e social da América Latina, como também evitar o avanço do comunismo nesse continente.

Na fase inicial da vigência da Aliança para o Progresso, Kennedy e a bela esposa Jacqueline representavam, para o povão, o que hoje poderia se chamar de “Casal 20”. Aparentemente apaixonados, eram bonitos e poderosos. Seus posters e fotos serviam de decoração na casa de seus fãs, principalmente dos mais humildes. Havia um fanatismo generalizado pelo famoso casal.

Através do Programa Aliança para o Progresso, havia distribuição de doações aos miseráveis nordestinos, vindas dos Estados Unidos. Para variar, os políticos ladrões e suas corjas de assessores, conseguiam se apoderar de grande parte dos donativos, para comercializar de forma descarada.

Em Nova-Cruz (RN), cidade pobre e atrasada, mas chamada de rainha do agreste, um político foi denunciado por estar desviando o leite em pó, destinado a matar a fome das crianças pobres da região.

O caso ficou por isso mesmo… A vingança do povo se resumiu, apenas, à pichação nas paredes: “Cadê o leite, seu doutor?” "Devolva o leite dos pobres!!!"

Violante Pimentel
Violante Pimentel é procuradora aposentada
  do Estado do Rio Grande do Norte
Era comum pessoas humildes, fanáticas do casal Kennedy e Jacqueline, através de falsos "representantes", convidarem Kennedy e Jaqueline para padrinhos de batismo de seus filhos recém-nascidos. Esses convites eram, enganosamente, “encaminhados” ao ilustre casal americano, conforme promessa de algum político inescrupuloso. No dia e hora marcados para o batizado, esse emissário chegava à Igreja. Muito compenetrado, trazia em mãos uma procuração duvidosa, com as "assinaturas" de Kennedy e Jacqueline, dando-lhe poderes para os representar naquele ato religioso. O pseudo "representante" do ilustre casal ainda apresentava ao padre a justificativa de que compromissos superiores haviam impedido o seu comparecimento.

O batizado era realizado, e o vínculo entre os compadres e comadres, na boa-fé dos matutos, valia para sempre. Os humildes casais sentiam-se orgulhosos por terem como padrinhos de seus filhos, o belo e importante casal americano.

Quando houve a tragédia do assassinato de Kennedy, no dia 22 de novembro de 1963, uma das “comadres” de Kennedy e Jacqueline, moradora da zona rural de Nova-Cruz (RN), ao saber da dolorosa notícia, ficou inconsolável, e sofreu uma crise histérica!!!

Completamente fora de si, a mulher teve que ser transportada para o Posto de Saúde de Nova-Cruz, onde recebeu atendimento médico de urgência.  De longe, podiam-se ouvir os gritos da comadre, desesperados e repetitivos:

-- Meu Deus, “cuma” estará “cumade” Jacqueline???



Um comentário:

  1. Muito bom, Violante!! Você é o máximo com suas crônicas. Olhe que essas caixas de leite chegaram lá em casa também, nos tempos das políticas. Bjs.

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