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FÉ NA PONTA DA LANÇA
(Por Otávio Nunes) Horsh
entrou na sede do conselho e sentou-se em sua cadeira de líder para ouvir seus
iguais. Yonk, o chefe da oposição, aproveitou que todos os membros estavam ali
para solicitar que Horsh fizesse uma lei para que todo o reino começasse a
adorar um Deus chamado Moustart. “Triste é o povo que não tem um Deus para
adorar, para protegê-lo, para guiá-lo rumo à felicidade, à eternidade.”
No
entanto, Horsh não queria formular tal lei por achar que era desnecessário
criar uma divindade ainda mais por lei. Disse ele ao conselho do reino que
nunca em milhares de anos precisaram de um Deus para guiá-los. O seu povo
sempre agiu de acordo com o pensamento, ora racional, ora emocional. “E erramos
pouco em nossa história. Vivemos felizes, ao contrário de outros povos que se
matam por causa de uma fé incontrolável que os tornam cegos e desumanos. Sem
contar que uma divindade pode ser usada para manipular as pessoas, sem contar o
mercantilismo que se forma em torno dela, em nome dela. Não queremos isto para
nossa população.” O discurso dele foi tão contundente que seu desejo prevaleceu
sobre a tese de Yonk, entre os conselheiros do reino.
OTÁVIO NUNES É JORNALISTA |
O
opositor e seus poucos seguidores ficaram sozinhos na sala após o término da
reunião e elaboraram um plano para afastar Horsh de vez do reino, sem que ele
pudesse reivindicar seu direito de líder eleito. À noite, um grupo de
mascarados matou Horsh com diversas lanças que retalharam todo seu corpo. No
dia seguinte, Yonk assumiu a liderança do conselho do reino e criou um Deus
para seu povo adorar. No entanto, mudou o nome da divindade de Moustart, para
Horsh. “Ele morreu como mártir em defesa do povo e merece ter seu nome como
nosso Deus. Viva Ele!”
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