segunda-feira, 14 de setembro de 2015

GLÓRIA BRAGA HORTA

MAIS UM EM MINHA VIDA

Ele, às vezes, pensava que eu fosse uma cachorra... A mãe dele!...    Eu lhe dava razão nesse raciocínio, pois era a besta aqui quem organizava tudo: comida, limpeza da casa, compras... Tudo mesmo. Até o banho dele e o que se relacionasse com seu bem-estar, sua aparência ...   majestosa, por sinal!

Oh, não! Que martírio! Minha existência se transformara mesmo em uma vida de cachorra. Eu até que tentava dar algumas ordens, mas ele fazia de conta que não me ouvia.  Mas se eu fosse mesmo igual à cadela da mãe dele, ah, garanto que as coisas seriam diferentes... No mínimo, morder-lhe-ia as orelhas!          

Chovesse canivetes, estivesse eu curtindo  aquela  preguiça...  não havia alternativa:  tinha que sair com ele, que nem dirigir sabia.  Além de todas essas mordomias, o ingrato ainda tentava dar suas escapadinhas.. Não podia ver uma fêmea - magra, gorda, feia, bonita, jovem ou coroa, não importava. Bastava que lhe dessem mole!  E ele, muito bonito, elegante, saradão... era assim de paquera, ó!

Glória Braga Horta nasceu em Mutum-MG. 
É jornalista, poeta e cronista.
Dedica-se também à música popular (canto e teclado)
e às artes plásticas

                           
Por outro lado, seus ciúmes exagerados causavam-me problemas: eu nem podia parar cumprimentar um amigo ou até mesmo uma amiga, e lá vinha ele, com ar de poucos amigos, se intrometer na conversa. Será que ele desconfiava que eu fosse lésbica? Eu hein?Tô fora! Certo dia, quase fomos parar na delegacia: uma pessoa vinha em nossa direção, me olhando. Passou rente ao meu lado, mas nem chegou a se esbarrar em mim...  Não deu outra: ele tentou agredi-la, só não conseguindo realizar seu intento porque segurei-o  com força.    

Mesmo assim, sinto saudades... eu  gostava demais dele, e ele era vidrado em mim.  Um dia ele partiu. Para sempre.  Foi difícil a despedida, de minha parte, porque ele, já inerte, não sentia mais nada... 
                                     
Seu olhar, envolvente e expressivo, tinha os mesmos matizes de um olhar humano... 

Eu, às vezes, pensava que ele fosse gente...

Que cachorro!



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