MAIS UM EM MINHA VIDA
Ele,
às vezes, pensava que eu fosse uma cachorra... A mãe dele!... Eu lhe dava razão nesse raciocínio, pois
era a besta aqui quem organizava tudo: comida, limpeza da casa, compras... Tudo
mesmo. Até o banho dele e o que se relacionasse com seu bem-estar, sua
aparência ... majestosa, por sinal!
Oh,
não! Que martírio! Minha existência se transformara mesmo em uma vida de
cachorra. Eu até que tentava dar algumas ordens, mas ele fazia de conta que não
me ouvia. Mas se eu fosse mesmo igual à
cadela da mãe dele, ah, garanto que as coisas seriam diferentes... No mínimo,
morder-lhe-ia as orelhas!
Chovesse
canivetes, estivesse eu curtindo
aquela preguiça... não havia alternativa: tinha que sair com ele, que nem dirigir
sabia. Além de todas essas mordomias, o
ingrato ainda tentava dar suas escapadinhas.. Não podia ver uma fêmea - magra,
gorda, feia, bonita, jovem ou coroa, não importava. Bastava que lhe dessem
mole! E ele, muito bonito, elegante,
saradão... era assim de paquera, ó!
Glória Braga Horta nasceu em Mutum-MG.
É jornalista, poeta e cronista.
Dedica-se também à música popular (canto e teclado)
e às artes plásticas
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Por
outro lado, seus ciúmes exagerados causavam-me problemas: eu nem podia parar
cumprimentar um amigo ou até mesmo uma amiga, e lá vinha ele, com ar de poucos
amigos, se intrometer na conversa. Será que ele desconfiava que eu fosse
lésbica? Eu hein?Tô fora! Certo dia, quase fomos parar na delegacia: uma pessoa
vinha em nossa direção, me olhando. Passou rente ao meu lado, mas nem chegou a
se esbarrar em mim... Não deu outra: ele
tentou agredi-la, só não conseguindo realizar seu intento porque segurei-o com força.
Mesmo
assim, sinto saudades... eu gostava
demais dele, e ele era vidrado em mim.
Um dia ele partiu. Para sempre.
Foi difícil a despedida, de minha parte, porque ele, já inerte, não
sentia mais nada...
Seu
olhar, envolvente e expressivo, tinha os mesmos matizes de um olhar
humano...
Eu,
às vezes, pensava que ele fosse gente...
Que
cachorro!
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