O LADRÃO DA IGREJA
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(Por Violante Pimentel) Havia
numa cidade do interior do Rio Grande do Norte um rábula, Sr. Mário Fontes, que
se destacava pelo empenho com que fazia a defesa dos réus pobres. Quase sempre,
a sentença era pela absolvição. Ele tinha o dom da oratória e as suas defesas
orais atraíam uma grande platéia. Apesar de não ter diploma de advogado, esse
homem era dotado de grande Inteligência e exerceu essa atividade durante vários
anos. Nessa época, década de 50, a cidade era muito pequena e atrasada, e as
ocorrências delituosas eram quase sempre ligadas a furtos de animais.
Num
certo dia, houve uma ocorrência diferente na cidade, quando um ladrão conseguiu
entrar na Igreja de São Judas Tadeu, e levar todo o dinheiro das coletas, que o
vigário guardava numa gaveta. Ali estava todo o dinheiro resultante das ofertas
dos fiéis e devotos de São Judas Tadeu.
O
homem foi preso e respondeu a processo criminal. Como não podia pagar advogado,
o juiz nomeou o conhecido rábula, para fazer a sua defesa. A defesa do rábula,
nesse processo, excedeu a todas as expectativas, constituindo-se uma peça “sui
generis”:
--
Senhor Juiz, o acusado Manoel Manu está sendo julgado por um ato que não pode
ser considerado crime! O que ocorreu, na verdade, foi um verdadeiro milagre de
São Judas Tadeu! Foi o santo que apareceu em sonho a Manoel Manu e sussurrou ao
seu ouvido que podia levar aquele dinheiro, para amenizar as necessidades por
que vinha passando. São Judas Tadeu ficou com pena desse pobre homem, da
miséria em que vive! Ele tem mulher e filhos em casa, com fome, e por isso o
Santo lhe deu o dinheiro, dizendo assim:
--
Meu filho, este dinheiro não é meu. Eu não preciso de dinheiro. Este dinheiro
foi o povo que trouxe. É do povo com fome. Pode levar o dinheiro. E ele
levou!!! Que crime ele cometeu? Se houve um criminoso, o criminoso é São Judas
Tadeu, que deu ao réu, todo o dinheiro da Igreja. Então, quem deve ser
processado é São Judas Tadeu! É ele quem deve ser julgado, como réu deste
processo! E é importante lembrar que São Judas Tadeu age com o consentimento de
Deus! E Deus pode tudo. Se ele não quisesse que o acusado levasse o dinheiro,
teria impedido! Mas Deus não impediu! Se não impediu, é porque não viu nada
errado! Se Deus não viu nada errado, então não existe crime!
E
o acusado foi absolvido!
Violante Pimentel é procuradora aposentada do Estado do Rio Grande do Norte |
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