Fotografia de Clóvis Campêlo / 2015 |
O PASSARINHO
(Por Clóvis Campêlo) E
mais uma vez, vejo-me indo ao dicionário e à Wikipédia pesquisar uma palavra
para mim desconhecida até então.
Segundo
o Minidicionário Escolar da Língua Portuguesa, da Companhia Melhoramentos, a
palavra pináculo significa o ponto mais elevado de um edifício, monte, etc. Ou
seja, a cúpula.
Essa
necessidade me veio à baila, depois de receber de um amigo arquiteto, um e-mail
em resposta à fotografia acima. Passando a régua, reclamava ele que o
passarinho fotografado confundia-se com o pináculo do edifício, talvez numa
crítica implícita à qualidade questionável da fotografia. Argumentei em
resposta que a fotografia fora feita em condições precárias, aproveitando o
momento da composição, o que, guardadas as devidas proporções, Cartier-Bresson
chamava de “momento decisivo”, com um equipamento de pequeno porte e em
condições não muito adequadas de luz. Ou seja, o momento se ofereceu e eu não
tive como recusá-lo. O passarinho, na verdade um bem-te-vi, ainda segundo o
dicionário, uma ave do campo que se alimenta de insetos, fez um pouso delicado
no tal do pináculo, com uma graciosidade surpreendente e vali-me do que tinha nas
mãos para realizar o registro. Parece que isso não o sensibilizou.
Em
contrapartida, outra amiga, advogada, data vênia, que se encontra na Suíça
visitando a filha que mora lá, elogiou a cena, taxando-a de lindíssima. Ou
seja, cabe a nós, autores, decifrar esses retornos e fazer a média adequada.
Eu,
particularmente, como autor da fotografia, não a acho perfeita, embora a
considere uma fotografia bonita e interessante. O enquadramento centralizado,
tradicional, talvez tenha lhe diminuído a ousadia. E além do mais, o que
estaria uma ave do campo fazendo no ambiente hostil da cidade grande? Sobre
bem-te-vis, aliás, sei muito pouco. Apenas lhes admiro a bravura de colocar
gaviões e carcarás, aves muito maiores, em disparada. Talvez, como o Recife
ainda seja uma cidade muito arborizada, encontrem fartura alimentar. Mas, na
verdade, como se pode verificar pela imagem acima, ele parecia muito à vontade
nesse cenário de pedra. Deixou-se fotografar, deu-me uma encarada e, pleno de
liberdade, voltou a ensaiar o seu voo. Eu, satisfeito, também segui o meu
caminho.
CLÓVIS CAMPÊLO |
Na
Wikipédia, dissipo a minha ignorância em relação ao passarinho que me serviu de
modelo, e descubro tudo isso: “O bem-te-vi é uma ave passeriforme da família
dos tiranídeos de nome científico pitangus sulphuratus. A espécie é, ainda,
conhecida pelos índios como pituã, pitaguáou puintaguá. Medindo cerca de 23,5
centímetros, caracteriza-se principalmente pela coloração amarela viva no
ventre e uma listra branca no alto da cabeça, além do canto que nomeia o animal.
Considerado um dos pássaros mais populares do Brasil, é um dos primeiros a
vocalizarem ao amanhecer”.
Pronto.
Nada como uma boa dose de informações enciclopédicas para nos ajudar a
complementar uma crônica que insiste em travar.
Quanto
à fotografia em si, retrata o bem-te-vi e uma parte do cenário verticalizado do
Recife. O pináculo, que já deve ter servido de ponto de apoio e escala para
pássaros diversos, continuará encimando a Igreja da Madre de Deus, no Recife
Antigo. E nós, eu e o passarinho, continuaremos dando curso à nossa trajetória
nessa terra de Deus, até que a morte nos separe.
Recife,
setembro 2015
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