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PARKINSON (II)
Cumprira
rigorosamente o ritual: dera banho no pai, enxugara o pai, colocara a roupa no
pai, passara creme hidratante nas pernas do pai e pomada nos ferimentos (o pai
caía muito), dera os comprimidos para “administrar” o Parkinson, pingara os
colírios etc. Só faltava colocar os sapatos. Mas faltava um dos pés. Vasculhou
a casa toda. Em vão.
A
empregada chegou, fez o café, mimou o pai e disse ao filho que se
tranqüilizasse, fosse escrever seus textos, cuidar da vida. Na hora da faxina,
ela daria uma geral e encontraria o sapato fujão. Também não encontrou.
No
dia seguinte, o pai pediu ao filho que fosse até a biblioteca, abrisse a gaveta
tal e pegasse alguns reais num envelope pardo para comprar umas miudezas. O
fujão estava lá.
--
Pai, o senhor esteve anteontem na biblioteca?
--
Acho que estive. Por quê?
--
Seu sapato estava lá, na gaveta. Quem o colocou ali?
--
Não sei. Eu é que não fui.
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