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CARNEIRINHOS
“Vaca
profana põe teus cornos
Pra
fora e acima da manada”.
Caetano
Veloso
(Por Otávio Nunes) O
marketing e mídia querem nos transformar numa manada de carneiros. Todos
iguaizinhos uns aos outros, pensando e agindo em função do consumo, da moda, do
momento. Querem que mudemos de celular a cada semana, de televisão e geladeira
a cada mês e de carro todos os anos. E esta estratégia não vale apenas para
quem tem dinheiro, o cidadão classe média e o que está acima dele, mas também
àqueles com menos posse. Só mudam os produtos. Mas o apelo é o mesmo.
Vendo
este estado de coisa, lembro-me da famosa frase do grande Nélson Rodrigues: “A
unanimidade é burra”. Parece que não se
aplica ao que disse lá em cima. Aplica-se, sim, senhor! A força da mídia nos
bombardeando é tão intensa que as pessoas passam a ser iguais, sem notar.
Proponho pois que raciocinemos sobre o fenômeno da massificação e procuremos,
então, alternativas.
Tentemos
nos diferenciar, sair da multidão, agir de outro modo. Mas, antes, deixo claro.
Esta crônica pode ser tudo, horrorosa, mal-escrita, malpensada, moralista ou
construída de forma incoerente. Só não é texto de auto-ajuda. Deus nos livre!!
Vade retro!!
Se
todos estão indo para um lado, prefira o outro. Note que quase sempre haverá
alternativa. Se não houver, fique parado, não saia do lugar, não siga os
demais. Recuse. Bata o pé. O mercado quer que você seja mais um cordeirinho na
fila. Reaja.
Agir
como todos é passividade e mediocridade. Diferenciar-se é criatividade. Não é
necessário carregar um cacho de banana-terra no pescoço nem vestir uma camisa
verde e branca no meio da torcida do Corinthians para ser diferente. Mantenha
os bons senso e gosto. Se exagerar, cai no ridículo, no esdrúxulo.
A
diferença pode ser aplicada nas pequenas coisas do cotidiano. Saia um pouco
desta ditadura da informação. Experimente trocar o jornal por um livro, o rádio
por um disco, o carro por um ônibus, o hipermercado pelo armazém do seu bairro,
a lotérica pelo jogo do bicho, a cerveja pelo vinho, a Globo pela Tevê Cultura,
a praia pelo pesqueiro, o Rolando Boldrin em lugar do Faustão. Para o
jornalista, troque o lide dos vários quês por uma abertura de matéria
diferente. Você está muito apegado à moda, meu amigo. Procure independência.
Deixe de ser maria-vai-com-as-outras. Pô!!!
A
mídia diz que sua (dela) função primordial é informar a sociedade, manter os
ideais de justiça e de cidadania. Muito bonito. Até pode ser verdade. Mas soa
como discurso, demagogia. O que deseja mesmo é nos empanturrar de informações
novidadeiras, modistas e supérfluas e de seus anúncios que vendem tudo.
Manter
o cidadão bem-informado é torná-lo consumidor. Fuja, meu amigo. Informação não
é conhecimento. Entra através de um ouvido e sai pelo outro, sem deixar nada lá
dentro. Conhecimento, não. Este fica em nossa cabeça. É perene, embora
dinâmico. Alimenta nosso espírito e nos forja.
OTÁVIO NUNES É JORNALISTA |
Mas
tudo tem um preço. Ou você pensou que só iria ganhar diferenciando-se? Ao
buscar outras alternativas, você corre o perigo de ser habitante de um gueto,
de militar numa força de resistência. Terá de administrar estas peculiaridades.
Mas “vale a pena, se a alma não é pequena”, como diria Fernando Pessoa,
português que se diferenciou tanto que acabou se multiplicando por três.
Pessoa
extrapolou. Coisa de gênio, visionário e revolucionário. Nós, reles mortais,
não carecemos de tudo isto. Podemos nos diferenciar nos desvãos da vida, nas
frestas que a sociedade da informação, inadvertidamente, nos permite.
Ser
igual a todos, seguir a mesma trilha, falar, pensar e agir do mesmo modo é
fácil. É só acompanhar o turbilhão da mídia, sem reflexão. Ser diferente é bem
mais trabalhoso. Exige muito pensar, refletir, raciocinar, pesar, compreender e
uma pitadinha de espírito crítico e inconformismo. Mas tente, meu amigo Você
corre o perigo de aprender e descobrir o que os demais jamais irão saber. Não
seja carneirinho. MÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉ!!!!
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