quinta-feira, 24 de setembro de 2015

CLÓVIS CAMPÊLO

Foto: Clóvis Campêlo

A LUA E EU

(Por Clóvis Campêlo) Conta o poeta Marcus Accioly que uma noite, parou embaixo de uma árvore desfolhada e ao olhar para cima teve uma surpresa. Na noite estrelada, a árvore parecia acesa pelas estrelas que brilhavam no firmamento. Inspirado pela bela visão, fez um poema sobre o assunto. Ao fazer a fotografia acima, essa história me veio à lembrança.

Accioly foi meu professor no curso de letras da Universidade Federal de Pernambuco, e embora o assunto sugira um poema de intenso romantismo, não acredito que tenha sido o caso, já que o bardo se considerava e é considerado como um “poeta épico”, se levarmos em conta aquela tradicional divisão entre épicos e românticos.

Voltando à fotografia, embora ela não nos mostre estrelas, traz uma lua minguante no céu azul do final da tarde, entre os galhos de uma árvore igualmente morta. Uma meia lua inteira e que ainda não se mostrava como o sorriso do gato de Alice no País das Maravilhas.

Tenho com a lua uma instável relação de admiração e medo. Quando menino, escutava abismado as conversas dos adultos sobre a influência lunar nas marés e sobra o seu poder sobre os desequilibrados mental, que em noite de lua cheia, perdiam-se na intranquilidade trazida pelo seu campo magnético. Tinha medo de enlouquecer e me transformar em mais um “súdito da lua”.

Mas também tive com ela a coincidência de vê-la conquistada pelos homens da Nasa, na mesma noite em que eu conquistava a garota mais interessante do bairro. Se a relação lunar com seus conquistadores não foi das mais agitadas e angustiantes, o mesmo eu não poderia dizer do meu amor incompreendido.

CLÓVIS CAMPÊLO



Para os astronautas americanos, talvez a lua fosse apenas o começo de uma grande escalada rumo a destinos mais distantes e difíceis. Para mim, no entanto, aquela era uma conquista intensamente desejada, e a necessidade de mantê-la a qualquer custo, trazia-me angústias e ansiedades.

Assim como a lua, supunha eu que havia uma face oculta nela, na minha amada, que eu, na minha insegurança juvenil, não conseguia decifrar. Isso me causava transtornos maiores do que os superados por Amstrong e companheiros para descer com o módulo lunar na superfície do nosso satélite. Como era difícil aterrizar naquele coração! A tarefa épica da conquista da lua, parecia mínima diante da minha façanha romântica.

Mas, como diz o poeta, tudo passou como tudo tem que passar. E hoje, vejo-me aqui a tentar justificar os pixels da minha máquina fotográfica digital com um texto qualquer que fale da lua e das suas impressões sobre mim.

E, se a conquista da lua pelos intrépidos rapazes americanos continua a ser de grande importância para a humanidade, como querem me fazer acreditar até hoje, aquele grande amor que me dizimou as forças, transformou-se em quase nada, numa lembrança longínqua e até mesmo inadequada. Como diz a massa ignara, nada como um dia atrás do outro e uma noite (de lua cheia) no meio para atrapalhar.

Recife, setembro 2015


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