CENTO E QUATRO DEGRAUS
Subiu contando os
degraus, um a um. Cento e quatro degraus para dois andares, cada andar valendo
por dois. Coisas de prédio antigo. O elevador, também dos antigos, vivia
quebrado e cada conserto demandava pelo menos quinze dias. Peças que já não
existiam, que tinham que ser fabricadas. Enfim, coisas de prédio antigo. Mas
teve que subir. A entrevista estava marcada havia dois meses e espaço em rádio
não era coisa de se desprezar, ainda que o elevador estivesse quebrado. Assim,
subiu. Devagarzinho, contando-os para minorar o esforço, parando a cada dezena
de degraus para menos cansar. Chegou. Esbaforido, mas chegou. Naquela quinta já
havia andado na praia, pela manhã, e suas pernas acusavam o cansaço típico de
quem, já não mais tão novo, andara na praia e subira cento e quatro degraus.
Veio a verdade, a triste verdade. A entrevista estava marcada para a sexta e
não para a quinta. Ele se enganara de dia. Teria que voltar no dia seguinte.
Ali mesmo tomou a decisão de não voltar. Afinal, espaço em rádio não é coisa
para se desprezar, a menos que o elevador esteja quebrado. (XICO BIZERRA)
Xico Bizerra é compositor, poeta, cronista e produtor musical. Tem mais de 270 composições gravadas http://www.forroboxote.com.br/ |
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