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Isolda
e Zelito foram casados – no civil e religioso, se orgulhavam disso barbaramente
– por exatos 35 anos. E não tomem os “exatos” por força de expressão. Isolda
foi-se dessa para onde ninguém sabe em 31 de março de 2012, mesmo dia em que,
há três décadas e meia se casara com Zelito, virgem da silva, orgulho da
família.
Isolda
morreu de morte atropelada, como a saudosa Iracema de Adoniram, no dia de seus
anos. Quem mandou atravessar a rua na contramão? Não foi por falta de aviso de
Zelito.
Isolda
e Zelito foram felizes a seu modo. Tiveram filhos, criaram filhos. Pagaram
todas contas miúdas. Levaram juntos netinhos para passear.
Mas
Zelito não passou um mísero dia sem lembrar da prima que morava duas quadras abaixo.
Paixão de toda vida.
Isolda, por mais que dissimulasse, guardava um
segredo que Zelito nunca conseguiu decifrar. Casamentos também são feitos de
mistérios.
Passada
a missa dos 30 dias, Zelito deu um chega para lá na discrição e partiu para
cima da prima com uma lábia até então insuspeita. Afinal, raciocinava o recém-viúvo:
“Se ela saiu com cada tipo, porque não sairia comigo, homem de posses razoáveis?”
Passaram
a morar juntos.
O
sonho de Zelito foi para o inferno. Embora não dissesse
nada a ninguém, discreto que sempre foi, ele falava para si mesmo: “Que mau hálito! Que
secura!”
A
prima, agora cônjuge, não era tão discreta assim: “Não bastasse ser pequeno, não
funciona! Nunca vi inutilidade assim”., costumava "confidenciar" à manicure.
A campa de Isolda passou a receber flores todos os dias. Era a mais florida e conservada do cemitério.
A
prima de Zelito dava de ombros.
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