sexta-feira, 3 de abril de 2015

BRUNO NEGROMONTE

ORIGINAL E VERSÁTIL, EMERSON LEAL TRAZ EM CD HOMÔNIMO UM PROFÍCUO CAMINHO PARA O FUTURO DA MPB
Com o aval de nomes como Chico Buarque, Tom Zé e Luiz Tatit, o artista soteropolitano Emerson Leal lança CD homônimo mostrando um caminho
A renovação da música popular brasileira é algo constante. Principalmente nos dias atuais, onde uma nova conjuntura advinda com o avanço das tecnologias propicia isso. O cenário que antes restringia-se às grandes gravadoras passou a ter uma maior autonomia, abrindo portas e facilitando a vida dos artistas que não estão com seus nomes vinculados as multinacionais da indústria da música. É bom ressaltar que as amarras não deixaram de existir, mas com este novo panorama foram criados caminhos alternativos, modificando o modo de se produzir música não só no Brasil, mas em todo o mundo. Hoje é possível gravar um disco sem sair de casa, assim como também se gravar e lançar um projeto sem necessariamente existir o produto físico, entre outras diversas alternativas existentes. No entanto nem tudo são flores nesta atual realidade, uma vez que a demanda de novos artistas e seus respectivos produtos em um país de proporções continentais como o nosso acaba em muitos casos limitando-se a determinadas regiões por conta da hegemonia ainda existente das grandes gravadoras e seus lobbys com alguns grupos que regem os principais meios de comunicação existentes. Esse tipo de situação dificulta a execução e consequentemente a propagação da boa música independente, que para superar isso faz uso do talento nato. Característica que Emerson Leal possui em demasia e que tem atraído a atenção de grandes medalhões da música brasileira. Se compararmos o cenário antes descrito a uma grande colcha de retalhos, podemos afirmar , sem sombra de dúvidas, que este o cantor e compositor soteropolitano da nova safra da MPB é uma estampa de fino trato que vem bordando com os mais preciosos fios da canção a sua trajetória. Seu talento singular, o faz múltiplo em sua sonoridade atraindo a atenção do meio musical, como foi o caso de Chico Buarque, uma de suas grandes referências, que em depoimento dado pela internet confidenciou ao João Bosco que Emerson seria uma "fera", um verdadeiro "craque". 
Radicado no Rio de Janeiro desde 2008, o músico autodidata trouxe em sua bagagem a diversidade rítmica que caracteriza a sua terra de origem, a Bahia, acoplando a isso características intrínsecas de suas experiências que o fazem ir além das fronteiras musicais convencionais. Melodista preciso, o seu talento inato acabou o credenciando a parcerias com nomes como Tom Zé e Luiz Tatit, que em entrevista afirmou que Emerson apresenta um trabalho que chega para cumprir um crucial papel no cenário atual da música brasileira, pois apresenta todos os elementos que constituem e que se espera de uma canção bem feita. Vale ressaltar que antes de sua chegada ao Rio, Leal já incursionava pela música quando residia ainda em Salvador apresentando-se em espetáculos como o “Arte final” ao lado da banda Oda Mae Brown, a qual além de ser um dos fundadores, tocava guitarra, cantava e compunha. Sua experiência no Rio de Janeiro e o "know-how" adquirido a partir destas vivências substanciou as múltiplas facetas do artista, de modo que isso hoje reflete-se em seu trabalho tanto no modo de compor, quanto de tocar e cantar. Multifetado, é válido lembrar que o artista, ao lado de nomes como Tom Zé, Luiz Tatit, Tatiana Lima e Vânia Medeiros, foi responsável pelo lançamento do BookSong Tom Zé, um apanhado com 30 canções do cantor e compositor de Irará (BA) e publicado pela Editora Multifoco.
Lançado em 2012, o disco que leva seu nome conta com 10 canções. Dessas Leal assina nove. A única que não é de sua autoria é "Blues da vampira", da lavra do compositor Eduardo Pinheiro. Com o baiano Oto Paim assina "No Japão" (que conta com a participação da cantora Ariella, vocalista da extinta banda paulistaOs Ilhonas) e "Doce", que segundo o cantor e compositor foi composta ainda na época do colégio e era o nosso sucesso nas rodinhas de violão. Com Fernando Salem compôs "Me love me", um ijexá que conta com a participação da cantora Verônica Ferriani. "O Salem me mandou essa letra. Achei que tinha uma cara de ijexá e assim fiz, com a melodia. Ele incluiu essa canção nos shows que fez na época de lançamento do seu disco de 2010, o "Rugas na pele do samba", mas ainda não tinha sido lançada em disco. Quando fui gravar, pensei que seria ótimo ter a companhia de uma voz feminina e convidei a Verônica Ferriani, que arrasou, como sempre!" relata o Leal. Consta também no álbum parcerias com nomes como Tom Zé (que assina, de modo hábil, a letra de"Círculo") e Luiz Tatit, cuja a parceria rendeu duas canções: "Coisa perene" e a a meticulosa "Das flores e das dores". De modo solo Emerson Leal ainda apresenta "(Que é que te deu) de repente", "Mais da cama que da fama" e "Silêncios", canções que atestam e expõem o talento autoral do artista. Gravado no estúdio carioca El Tiburón, o disco conta com as guitarras de Fabrício Mota e o acordeon de Marcus Zanomia, além do multifacetado Emerson Leal que assume não apenas a concepção e produção do projeto, mas todo o cerne do álbum, desde as programações, instrumentos, vozes, arranjos e o projeto gráfico até a edição, gravação, mixagem entre outras etapas que levam ao resultado final deste debute fonográfico com distribuição da Tratore. 
Sob a égide de grandes nomes da MPB Leal chega trazendo em sua arte um novo gás que faz-se necessário para esta renovação substancial da música popular brasileira sem deixar de perpassar pela rica sonoridade já existente em nossa arte através dos mais diversos gêneros de modo bastante eficiente e com letras e melodias bastante originais, o que acaba credenciando-lhe, sem sombra de dúvidas, como um dos mais promissores nomes da música brasileira da atualidade com um trabalho que substancia-se em peculiaridades que acabam por destacá-lo. Seja no modo original de escrever suas letras, seja em sua maneira perspicaz de compor e executar suas melodias, seja através do seu afinado canto quando solta a sua voz Emerson Leal mostra uma arte feita com esmero a partir de valorização de todas as etapas em um trabalho onde letra e melodia unem-se de modo uníssono, celebrando a canção e o bom gosto.
Aos amigos leitores deixo aqui a canção "Coisa perene":

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