FOTO: LAILA MOXON www.falamamae.com |
Ainda
menino, guri gorducho e pobre, ficava sempre apreensivo às vésperas de
casamento de parentes ou conhecidos. Não via a hora, claro, de comer salgados,
doces e tudo mais que me fosse servido. Também gostava de correr feito besta de
um lado para outro do salão, com meus primos, até vomitar na roupinha nova,
comprada a prazo. No dia seguinte, o puxão de orelha era certo. Quando não
apanhava ali mesmo: no salão. Não raro, a festa era no quintal da casa dos pais da noiva - o que era frequente, em função de nossas "relações sociais".
Mas
o que me deixava apreensivo não era o castigo físico, que, a bem da verdade,
pouco doía. Era a certeza de que mamãe iria à cabeleireira, logo pela manhã.
Que depois voltaria com uns rolos imensos na cabeça coberta por um pano
qualquer. O pior viria à tarde, quase na hora da cerimônia. Quando ela entrava
em casa, com aquele “capacete” construído com frascos e mais frascos de laquê,
era sempre um baque para mim. Meu pai não se abalava. Às vezes, chegava a lhe
dizer: “Está bonita”. Acho que mentia.
Aquela
mulher de “capacete” não era minha mãe. Minha mãe era a que me buscava de
cabelos lambidos e vestido ordinário, na porta da escola. Esta eu amava. Desta
sinto saudade, muita saudade. (2012)
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