terça-feira, 28 de abril de 2015

QUASE HISTÓRIAS (V)

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CÚMPLICES

Argemiro (8.6, hipertenso, cardíaco) e Esmeralda (8.7, obesa, diabética) eram casados há sessenta anos. A cada dia, a cumplicidade entre eles aumentava:

-- Tudo bem, Argemiro, não vou dizer aos meninos que hoje você tomou uma cachaça escondida e duas latas de cerveja também.

-- Você jura por Deus, Esmeralda, que não vai contar aos meninos que bebi? Eles estão loucos pra nos internar...

-- Juro. Mas só se você jurar que não vai contar pra eles que eu bati uma lata de leite condensado. Quer uma balinha de coco?

-- Não, obrigado. Vou tomar mais um gole.

VASO BOM

Hoje, estou “quase” convencido de que sou um homem bom. Bom? Bom nada: boníssimo, dos que merecem, definitivamente, um espaço no panteão dos santos. E vejam bem: não afirmo isso por cabotinismo, me valho da mais pura lógica para chegar a tal conclusão.

Os ditos populares, a exemplo da fé, não costumam falhar. Eu acredito em quase todos ditos e benditos, desde que me convenham. E o que diz um dos mais famosos deles? Que vaso ruim não quebra. Trata-se da mais absoluta verdade. Ora, ora, se vaso ruim não quebra, vaso bom quebra. Como estou um amontoado de cacos – a espera de uma alma santa, munida de vassoura e pá, que me recomponha –, só posso ser o que sempre imaginei ser: um cara trilegal.

Contra a lógica, meus caros, não há argumentos.




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