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Dizem
que mentira é coisa feia e tem pernas curtas. Não é bem assim. Todos nós
conhecemos pessoas, políticos à frente, que mentem compulsivamente – e que vão
longe. Não faz muito tempo, um mitômano chegou à presidência da República.
Outros tantos, ainda que não saibam uma palavra em javanês, prosperam igual e
celeremente. Vendendo aos incautos os conhecimentos que nunca tiveram de
javanês.
Sejamos
francos: em certas situações, não há como fugir da mentira, daquela mentirinha
que pessoas sem senso de ridículo nos obrigam a contar. Imagine sua sogra, que
já ultrapassou os limites da obesidade mórbida, dirigindo-se a você, com aquele
corpanzil roliço coberto por um vestido estampado, quase aberrante:
—
Então, Juninho, sua sogra está ou não está elegante, bonitona?
Refreie
seus instintos mais primitivos. Sinceridade, ao contrário do que dizem, nem
sempre é boa conselheira. Concorde. Mas, tudo o que você, Juninho, disser além
de “claro, claro” soará aos ouvidos de sua sogra como ofensa irreparável.
Minta, mas seja discreto. Nada de elogios rasgados. Ela sabe que, com o “claro,
claro”, você está mentindo. Afinal, ela não é tola de tudo. Jamais suportaria,
no entanto, o deboche. Nada de “bonitona é pouco” ou mesuras afins.
A
desgraça é que há pessoas que mentem sem necessidade alguma. Deveriam ficar
caladas. Seja honesto: sem contar seus filhos, evidentemente, você já viu algum
recém-nascido lindo, que seja de fato a cara do pai, da mãe ou do vizinho? O
que temos ali, após o parto, é uma massa disforme que leva obstetras em início
de carreira a ter uma dúvida das bravas: afinal, qual é a placenta?
Os
extremos se tocam. Velórios são também espaços propícios para mentiras
desnecessárias. Ora, todo mundo sabe que o cara foi um crápula a vida toda,
teve casos e mais casos, bebia e fumava sem descontinuar, fugia do batente como
aquele presidente dos livros etc. e tal. Aí, sempre aparece alguém para dizer,
com ares de carpideira, para a pobre da viúva – justo para ela, que agora sonha
com um fim de vida em paz: “Foi um homem bom, ninguém pode negar”.
Resumo
da ópera: se for preciso, não houver mesmo outro jeito, minta, mas sem exageros.
(maio de 2013)
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