sábado, 4 de abril de 2015

CLÓVIS CAMPÊLO

SOLANO TRINDADE

O poeta Solano Trindade nasceu no Recife, no bairro do São José, no dia 24 de julho de 1908. Filho de um sapateiro, mudou-se para o Sudeste do país, no início dos anos 40, vivendo em Belo Horizonte e Pelotas. Depois de um breve retorno ao Recife, muda-se para o Rio de Janeiro, onde funda o Comitê Democrático Afro-Brasileiro. Vai depois para São Paulo, onde funda o Teatro Popular Brasileiro, fez parte do grupo de artistas plásticos Sakai de Embu. Também participou do filme A hora e a vez de Augusto Matraga. Faleceu no Rio de Janeiro, em 19 de fevereiro de 1974.

Antes de emigrar, porém e se transformar em mais um nordestinado no sudeste brasileiro, idealizou no Recife, em 1934, o I Congresso Afro-Brasileiro. Dois anos depois, em 1936, participou em Salvador do II Congresso Afro-Brasileiro. Em 1936, também, ainda no Recife, fundou a Frente Negra Pernambucana e o Centro de Cultura Afro-brasileira, para divulgar o trabalho de artistas e intelectuais negros.
FOTO DE CLÓVIS CAMPÊLO


O site Causa Operária, em texto publicado quando das comemorações dos 35 anos do falecimento do poeta e militante, disse o seguinte: “Dos escritores negros que deixaram sua marca na literatura brasileira, Solano Trindade foi um dos mais significativos. Isso porque foi o primeiro, e talvez o mais contundente a se dirigir, não impessoalmente a toda a população, mas também, particularmente à população negra, descrevendo os mais graves problemas sociais vividos pelos negros brasileiros, e dos quais se tornou um dos mais ilustres artistas”.

Ainda segundo o site acima citado: “No início de sua vida artística, estudou um ano no Liceu de Artes e Ofícios, mas abandonou um estudo mais aprofundado em artes plásticas para se dedicar principalmente à poesia, onde iria se tornar um dos mais expressivos símbolos nacionais da resistência negra ao racismo e à opressão social. Sua fase literária mais importante inicia-se na década de 1930, quando escreve seus primeiros poemas retratando as dificuldades vividas pelos negros então no país”.

Segundo o Diario de Pernambuco, em matéria publicada no dia 11/5/2014, quando do 40º aniversário da sua morte, Solano Trindade nasceu vinte anos após a abolição da escravatura, em 1908, filho de sapateiro mulato e de doméstica cafuza. E mais: “A despeito do sangue branco e indígena nas veias, não houve confusão a respeito da raça do menino. Cresceu ouvindo a zombaria:"Oh, meu Deus, matai o Solano. Este negro feio, de beiço grande". Era pobre e vivia em uma época difícil para os seus, mas foi capaz de contrariar o determinismo social e econômico para se revelar um ícone da cultura brasileira”.

CLÓVIS CAMPÊLO

“As poesias de Solano estão repletas de referências aos ritmos, costumes, religiões africanas, além de mitos e lendas do povo negro. Ele foi pioneiro ao "ressignificar o ranger dos grilhões, gemidos, murmúrios e silêncios da senzala", acrescenta a doutora em teoria literária Silvana Maria Pantoja”, ainda na matéria do DP.

A escultura do poeta está no Pátio de São Pedro, na esquina com o Beco do Veado Branco, cenário de um dos mais importantes polos de animação e de manifestação da cultura negra no Recife.

No dia em que fizemos a fotografia acima, a escultura estava com a cabeça coberta por um chapéu de palha, numa interferência popular bem humorada. Acho que o poeta deve ter gostado daquilo.
Recife, abril 2015


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