"NESTA RUA SÓ TEM CANALHA…”
(Por Violante Pimentel) Na rua em que eu morava, em Nova-Cruz, morava também uma família muito numerosa. O casal, Seu Gonzaga e Dona Efigênia, tinha uma prole constituída de oito filhos, sendo três homens e cinco mulheres, ainda crianças. O dono da casa era ferroviário, muito calmo, e dedicava sua vida mais ao trabalho do que à família. Sua esposa, muito enérgica, era quem mandava em tudo, inclusive no marido. Semianalfabeta, dona Efigênia falava errado, era gasguita e briguenta. Irreverente, ralhava com os filhos a toda hora, e reclamava das vizinhas, que, segundo ela, colocavam lixo em sua calçada. Por ser confusionista, a vizinhança evitava aproximação com ela.
Às vezes, Dona Efigênia amanhecia o dia dando coice no vento, ou seja, procurando briga, pra descarregar suas frustrações. A mulher só se calava quando o marido chegava do trabalho. Seu Gonzaga detestava gritaria e, por diversas vezes, havia ameaçado abandonar a casa, e ir pra bem longe, caso a esposa não procurasse controlar o gênio e segurar a língua.
Para padrinhos de uma de suas filhas, Dona Efigênia havia convidado um ilustre casal de Nova-Cruz, comerciante Francisco Bezerra e Lia Pimentel Bezerra, professora de Inglês.
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Dona Efigênia amanhecia o dia varrendo a calçada e xingando a pessoa que, segundo ela, colocava o lixo em frente à sua casa. Jurava que ainda iria descobrir quem era essa cachorra, "sem- vergonha", que fazia isso, e, com certeza, essa pessoa iria receber o troco que merecia.
Um belo dia, o seu sonho foi realizado, pois pegou em flagrante a autora de tão famigerado ato. Pela manhã, Dona Efigênia abriu a porta da sua casa, para ir varrer a calçada, no exato momento em que a tal mulher colocava um saco de lixo na sua calçada. Vermelha de raiva, a jararaca armou um verdadeiro escândalo, xingando a “infratora” com muitos palavrões.
A vizinha reagiu, devolvendo-lhe os desaforos. Nessa hora, houve o ápice da briga, pois Dona Efigênia, completamente possessa, pegou a vassoura e atirou-a, bruscamente, em direção à vizinha. Ela, porém, conseguiu se esquivar, correndo em direção à sua própria casa. A vassourada, entretanto, por um triz, não atingiu a sua comadre Lia Pimentel, que, naquele momento, passava pela calçada, elegantemente vestida, dirigindo-se ao Ginásio Nossa Senhora do Carmo, onde lecionava. Dona Efigênia, quando a viu, quis justificar sua ira e sua agressividade, dizendo:
- Olhe, comadre Lia, peguei em cheio aquela cachorra, "sem-vergonha", botando lixo aqui em frente à minha casa! E gritou pra toda a rua ouvir:
- Todo dia eu digo pra Gonzaga, que nesta rua aqui só tem canalha!!! Só "escapa" mesmo comadre Lia, compadre Francisquinho e NÓS!!!"
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