Não basta ir pra cá ou pra lá. Fazer isso ou aquilo, por mais chique
que pareça, também não basta. Tem que alardear, pra não ficar parecendo tonto
ante os amigos. Se eles fazem, eu também faço. Se eles já foram, não faz mal,
eu também vou. O que eles estão pensando? Se eles podem, eu também posso. É o
pensamento reinante. A moça, que conhecia bem a regra do jogo, queria porque
queria contar ao mundo, em especial a umas e outras, que faria uma viagem ao
exterior – a Paris, exatamente – e que, como de hábito, às vésperas do
embarque, ela e o namorado gostavam de jantar ali, naquele restaurante mais
caro que bacana, sonho de consumo dos deslumbrados de posse miúda.
Para tanto, nada melhor que usar as redes sociais. Em segundos, a
notícia seria do conhecimento de um contingente enorme de pessoas, muito embora
seus alvos preferenciais não chegassem a dez – duas ou três colegas de
trabalho, um ex-namorado e umas primas de diferentes graus, uma gente cheia de
prosa, metida a besta, que gosta de parecer mais do que é. Mas como fazer isso,
anunciar o jantar pomposo e a viagem para o estrangeiro, sem parecer caipira?
A moça pensou um bocado, a ponto de seu companheiro de garfo e voo
temer pela saúde dos dois neurônios da amada. Ela custou para encontrar uma
saída, mas encontrou:
— Amor, bem disse aquele filósofo cujo nome não me recordo: “Quem
procura, acha. Achei”. Vou escrever assim: “A
comida do REI DA PICANHA é dez. Vale a pena pagar a fortuna que vamos pagar.
Mas gosto não tem preço. Amanhã, Rodolfo e eu, viajamos, na primeira classe,
para o Velho Oeste, Paris, a Cidade Eterna. Mas o que nos chama a atenção,
neste momento, é o casal ao lado. Os dois não param de mandar mensagens via
celular. Nem se falam. Parecem dois estranhos. Querem mostrar os aparelhos
novos, só pode! Eu acho isso tão feio. Não suporto gente exibida. Quanta
cafonice”. Que achou, amor?
– Muito bom. Só tem um probleminha. Se não me engano, a Cidade
Eterna é Londres. Estou em dúvida. Melhor tirar. Tira também o Velho Oeste. Deixa só Paris. Manda bala, a
mensagem ficou boa, discreta.
(2013)
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