O VÍCIO
www.pacatubaemfoco |
(Por Violante Pimentel) Gildo
era um boêmio de Nova-Cruz, que todas as noites frequentava a Rua do Sapo, zona
do baixo meretrício. Às margens do Rio Curimataú, a rua tinha esgoto ao ar
livre, e não havia calçamento. Abrigava as operárias do sexo, velhas e
decadentes, e também as mais jovens, que ainda nutriam a esperança de um dia
mudar de vida.
Gildo
casou-se com Nina, uma mulher bonita e jovem, que tinha um bom emprego, e era
considerada a moça mais bonita da cidade. Mesmo assim, não conseguiu se afastar
daquele antro de prostituição.
Parecia
um caso patológico. Apesar de não ter emprego definido, Gildo era uma espécie
de moleque de recados dos políticos da cidade. Não deixava de ser um "boa
vida". As despesas com a casa e com
a educação dos dois filhos pequenos ficavam a cargo da mulher.
O
estranho é que Gildo não tinha envolvimento com nenhuma prostituta da Rua do
Sapo. Chegava em casa de madrugada, embriagado, mas sem perturbar a família. A
mulher, resignada, já estava cansada de pedir para que ele mudasse. Alguns
amigos que também frequentavam a Rua do Sapo chegavam a duvidar de sua
virilidade. Passavam horas bebendo e conversando "miolo de pão".
Entretanto, as mulheres da casa o defendiam veementemente, pois conheciam o seu
desempenho na cama.
Ele
sempre procurava uma desculpa para se retirar, quando percebia que o clima
estava “esquentando”.
|
Certo
dia, Gildo sofreu um acidente de carro, que lhe rendeu alguns meses de
“castigo”, com a recomendação médica de repouso absoluto. Para seu desespero,
teve que se afastar da Rua do Sapo. O sofrimento foi grande, pois, há mais de
dez anos, tinha como obrigação noturna atravessar a linha do trem, que cortava
a cidade, e se encaminhar para aquela misteriosa rua, escura e mal cheirosa.
Nesse
período de convalescença, por mais que a esposa se esforçasse, não conseguia
fazê-lo achar graça em nada. Uma visível tristeza se apoderou dele, e veio a
depressão. Os amigos sempre o visitavam, mas isso de nada adiantava.
Preocupada,
a esposa, pediu ao padre José que lhe fizesse uma visita. Confessor e
confidente de Nina, o padre sabia de todos os seus problemas conjugais.
Com
a intenção de ajudá-la, o padre aproveitou o momento para forçar Gildo a lhe
confiar o motivo que o levava a deixar a esposa e os filhos em casa todas as
noites. Procurou mostrar-lhe que sua atitude era humilhante para a mulher, e,
com certeza, a tendência do casamento dos dois era se acabar. Gildo confessou que amava a esposa e os
filhos, mas que a sua atração pela Rua do Sapo era mais forte do que tudo isso.
Não ia lá atrás de mulheres, mas gostava do ambiente. E o padre, insistindo no
assunto, perguntou:
--
Finalmente, se você não vai lá atrás de mulheres, que magia essa rua, cheia de
pecado, exerce sobre você?
E
Gildo, falando baixinho, confessou:
--
Padre, tenho até vergonha de dizer!!! Mas o que mais me atrai, na Rua do Sapo,
é o ambiente fétido... é a catinga de mijo!!!
O
padre balançou a cabeça, desapontado, e depois disse a Nina, que o marido dela
estava precisando de um psiquiatra...
Nenhum comentário:
Postar um comentário