quarta-feira, 4 de março de 2015

COISAS DA VIDA

O VÍCIO


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(Por Violante Pimentel) Gildo era um boêmio de Nova-Cruz, que todas as noites frequentava a Rua do Sapo, zona do baixo meretrício. Às margens do Rio Curimataú, a rua tinha esgoto ao ar livre, e não havia calçamento. Abrigava as operárias do sexo, velhas e decadentes, e também as mais jovens, que ainda nutriam a esperança de um dia mudar de vida.

Gildo casou-se com Nina, uma mulher bonita e jovem, que tinha um bom emprego, e era considerada a moça mais bonita da cidade. Mesmo assim, não conseguiu se afastar daquele antro de prostituição.

Parecia um caso patológico. Apesar de não ter emprego definido, Gildo era uma espécie de moleque de recados dos políticos da cidade. Não deixava de ser um "boa vida".  As despesas com a casa e com a educação dos dois filhos pequenos ficavam a cargo da mulher.

O estranho é que Gildo não tinha envolvimento com nenhuma prostituta da Rua do Sapo. Chegava em casa de madrugada, embriagado, mas sem perturbar a família. A mulher, resignada, já estava cansada de pedir para que ele mudasse. Alguns amigos que também frequentavam a Rua do Sapo chegavam a duvidar de sua virilidade. Passavam horas bebendo e conversando "miolo de pão". Entretanto, as mulheres da casa o defendiam veementemente, pois conheciam o seu desempenho na cama.

Ele sempre procurava uma desculpa para se retirar, quando percebia que o clima estava “esquentando”.

Violante Pimentel é procuradora aposentada
 do Estado do Rio Grande do Norte

Certo dia, Gildo sofreu um acidente de carro, que lhe rendeu alguns meses de “castigo”, com a recomendação médica de repouso absoluto. Para seu desespero, teve que se afastar da Rua do Sapo. O sofrimento foi grande, pois, há mais de dez anos, tinha como obrigação noturna atravessar a linha do trem, que cortava a cidade, e se encaminhar para aquela misteriosa rua, escura e mal cheirosa.

Nesse período de convalescença, por mais que a esposa se esforçasse, não conseguia fazê-lo achar graça em nada. Uma visível tristeza se apoderou dele, e veio a depressão. Os amigos sempre o visitavam, mas isso de nada adiantava.

Preocupada, a esposa, pediu ao padre José que lhe fizesse uma visita. Confessor e confidente de Nina, o padre sabia de todos os seus problemas conjugais.

Com a intenção de ajudá-la, o padre aproveitou o momento para forçar Gildo a lhe confiar o motivo que o levava a deixar a esposa e os filhos em casa todas as noites. Procurou mostrar-lhe que sua atitude era humilhante para a mulher, e, com certeza, a tendência do casamento dos dois era se acabar.  Gildo confessou que amava a esposa e os filhos, mas que a sua atração pela Rua do Sapo era mais forte do que tudo isso. Não ia lá atrás de mulheres, mas gostava do ambiente. E o padre, insistindo no assunto, perguntou:

-- Finalmente, se você não vai lá atrás de mulheres, que magia essa rua, cheia de pecado, exerce sobre você?

E Gildo, falando baixinho, confessou:

-- Padre, tenho até vergonha de dizer!!! Mas o que mais me atrai, na Rua do Sapo, é o ambiente fétido... é a catinga de mijo!!!

O padre balançou a cabeça, desapontado, e depois disse a Nina, que o marido dela estava precisando de um psiquiatra...






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