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Naquele
domingo de manhã, no bar do Carneiro, a disputa acirrada no bilhar (era
campeonato) não acabou em pancadaria por um triz. Os jogadores de olho no
troféu anual “O BAMBAM DA VILA INVERNADA” – o mais importante evento esportivo
do bairro –, buscavam pretextos para armar confusão. Nem que para isso fosse
preciso atropelar a gramática, ferrar a regência, jogar o pai dos burros no
lixo. Foi o que alguns fizeram.
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Animal, analfabeto: não se fala “nóis fumo”; o certo é “nóis fomo”. Tô errado,
doutor? – quis saber, em tom agressivo, o mais ignorante e grandalhão deles, do
intelectual da redondeza, Romualdo Bastos, o cruzadista.
(Bastos
dedicava-se diariamente a esse ofício: fazer palavras cruzadas – para espanto
geral. Muitos se perguntavam: “Como pode alguém preencher com letras todos
esses quadrinhos e dar sentido a esse preenchimento? Coisa para sábio.”)
Bastos
sempre foi orgulhoso de sua sabedoria, mas tinha tino, jamais se meteu em
discussões que pudessem lhe trazer danos físicos, não seria agora, depois de
velho, que faria isso:
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Os dois estão certos. A língua é dinâmica, se me entendem – balbuciou, com as
pernas trêmulas e as mãos em busca de pandeiro.
O
cruzadista mais não disse. Os dois contendores não entenderam nada, mas fizeram
que sim. Acalmaram-se. Estavam satisfeitos com a resposta. Bastos pegou, então,
o caminho da roça. Homem prudente.
O
Velho Marinheiro, desafeto do cruzadista, não deixou por menos:
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Ananias: esse Bastos, além de chato, é mentiroso e covarde.
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