domingo, 8 de março de 2015

“NÓIS FUMO” OU “NÓIS FOMO”?

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Naquele domingo de manhã, no bar do Carneiro, a disputa acirrada no bilhar (era campeonato) não acabou em pancadaria por um triz. Os jogadores de olho no troféu anual “O BAMBAM DA VILA INVERNADA” – o mais importante evento esportivo do bairro –, buscavam pretextos para armar confusão. Nem que para isso fosse preciso atropelar a gramática, ferrar a regência, jogar o pai dos burros no lixo. Foi o que alguns fizeram.  

-- Animal, analfabeto: não se fala “nóis fumo”; o certo é “nóis fomo”. Tô errado, doutor? – quis saber, em tom agressivo, o mais ignorante e grandalhão deles, do intelectual da redondeza, Romualdo Bastos, o cruzadista.

(Bastos dedicava-se diariamente a esse ofício: fazer palavras cruzadas – para espanto geral. Muitos se perguntavam: “Como pode alguém preencher com letras todos esses quadrinhos e dar sentido a esse preenchimento? Coisa para sábio.”)

Bastos sempre foi orgulhoso de sua sabedoria, mas tinha tino, jamais se meteu em discussões que pudessem lhe trazer danos físicos, não seria agora, depois de velho, que faria isso:

-- Os dois estão certos. A língua é dinâmica, se me entendem – balbuciou, com as pernas trêmulas e as mãos em busca de pandeiro.  

O cruzadista mais não disse. Os dois contendores não entenderam nada, mas fizeram que sim. Acalmaram-se. Estavam satisfeitos com a resposta. Bastos pegou, então, o caminho da roça. Homem prudente.

O Velho Marinheiro, desafeto do cruzadista, não deixou por menos:

-- Ananias: esse Bastos, além de chato, é mentiroso e covarde.





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