QUEM É DE PEIXES
CHICO SCIENCE |
Leio
nos jornais de hoje que a memória de Chico Science está esquecida pelos poderes
públicos. O seu velho Landau está abandonado no Espaço Ciência, simbolicamente
situado na divisa entre as cidades de Olinda e Recife, enquanto no Pátio de São
Pedro, no centro histórico do Recife, o memorial Chico Science encontra-se
esquecido e sem manutenção.
Acho
interessante essa necessidade de se manter a lembrança e a memória dos que já
se foram, muito embora os poderes públicos vejam isso, na realidade, como mais
um ato de conveniência política.
Chico
morreu em fevereiro de 1997, na véspera do carnaval, aos 31 anos de idade, em
pleno apogeu da fama e da criatividade. Aliás, diga-se de passagem, Chico
Science era o Nação Zumbi. Sem ele, a banda institucionalizou-se, perdeu a
criatividade das composições, e vive apenas se mantendo da fama conquistada
anteriormente. Deixou de ser revolução para ser status quo, muito embora não
possamos prever como estaria hoje o processo criativo de Science, se teria
evoluído ou também estagnado. Enfim, tentar decifrar isso exige perspicácia
para a nossa ciência. Chico Science nasceu, viveu e morreu em Olinda. Em 2008,
chegou a ser incluído pela revista Rolling Stones, entre os cem maiores
artistas da música popular brasileira. Saravá, Chico!
CLÓVIS CAMPÊLO |
Mas,
Chico Science não foi o único revolucionário a nascer no dia 13 de março. Em
1900, na virada do século, nascia em Panelas, cidade situada no agreste de
Pernambuco, Gregório Bezerra, o homem de ferro e flor. Pobre, sem-teto, como
tantos outros imigrantes, foi analfabeto até os 25 anos de idade. No Recife,
foi carregador de bagagens na Estação Central, ajudante de obras e jornaleiro.
Durante algum tempo dormiu entre as catacumbas do Cemitério de Santo Amaro. Foi
como jornaleiro que se alfabetizou e politizou, chegando ao posto de sargento
do Exército do Brasil e ingressando no Partido Comunista Brasileiro. Preso,
durante a ditadura de 1964, foi torturado e arrastado pelas ruas do bairro de
Casa Forte. Teve seus pés mergulhado em solução de bateria, ficando em carne
viva, cena esta exibida nos telejornais da época. Exilado, viveu no México e na
União Soviética. Faleceu em São Paulo, em 1983, vitimado por problemas
cardíacos. Em sua homenagem, o poeta Ferreira Gullar escreveu o poema Feito de
ferro e flor. Revolucionário e libertário, Gregório Bezerra foi um grande
brasileiro.
Outro
pisciano famoso e histórico, nascido nesse mesmo dia, em 1830, em Quixeramobim,
no Ceará, foi Antônio Conselheiro. Em pleno surgimento da República,
Conselheiro, monarquista convicto, por uma série de questões, criou no sertão
árido da Bahia, uma comunidade – Canudos - que, na época, chegou a ser
considerada a segunda maior cidade baiana.
Seu
temperamento quixotesco e visionário, ao lado do fanatismo religioso do povo do
sertão, desafiou os novos conceitos políticos e legais que começavam a vigorar
no Brasil daquela época. Numa região árida e hostil ao homem, criou uma
comunidade próspera e justa. Os conceitos modernos e positivistas da República,
ao lado dos interesses latifundiários dos coronéis do sertão, não tinham como
conviver com isso. Canudos foi destruída em nome do progresso.
Recife,
março 2015
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