ABRINDO O FOLE DE GONZAGÃO
Se
a modernidade existe e nos favorece não há porque desprezá-la. Assim pensando,
enviei através do celular, para amigos e conhecidos, mais de 50 torpedos
pedindo uma opinião qualquer sobre Gonzagão. Alguns poucos responderam (menos
de 10%), o que, aliás, diga-se de passagem eu já esperava. Afinal, ninguém tem
a obrigação de exercitar a crítica musical ou de emitir pareceres sobre o que
quer que seja. Mas, considerando que a minha geração cresceu e viveu ouvindo as
composições do Rei do Baião, nada mais natural do que emitir uma opinião, por mais
passional que ela fosse.
Por
exemplo, a minha amiga Fatita Vieira, de João Pessoa, respondeu-me dizendo o
seguinte: “É o maior representante da música nordestina, do mais autêntico e
puro forró. E influenciou todo mundo que veio depois dele, até a turma do
“forró de plástico”, como diz Chico César. Ouvir as músicas de Gonzagão, em
qualquer época, não só nos festejos juninos, é um prazer indescritível para
mim. Jamais haverá outro com o talento dele”.
A
poetisa Vilma Abubua, da Várzea do Capibaribe, com toda a sua sensibilidade
poética, vaticinou: “Gonzagão é xote, é baião, é vida alucinação, é Asa Branca,
Légua Tirana, Sanfona do povo, Ovo de codorna, Vem morena, vem, é Lula,
Marimbondo, Calanga da Lacraia, É lampião, É Vida, É Luz, É forró no escuro, é
Assum preto no peito, É pé de serra na serra e no sertão”.
CLÓVIS CAMPÊLO |
O
meu amigo, o arquiteto Aristóteles Pinheiro foi curto, grosso e afirmativo: “O
Rei do Baião!”. Outro amigo, o advogado Rômulo Barreto foi sincero: “Adoro seu
trabalho”. E Inaldo Sampaio, o meu compositor contemporâneo preferido, foi
taxativo: “O fodão!”.
Outra
amiga de longas datas, Zenita Falcão, mandou me dizer que "Gonzagão é só
saudades. Curto demais um cd que tenho dele com Gonzaguinha".
O
meu amigo Marcos Lothar, músico, compositor e líder comunitário lá na
comunidade do Encanta Moça, no Pina, telefonou-me para dizer que, junto com
Jackson do Pandeiro, Gonzagão inventou a música nordestina. Não tive como
contestar, aliás, muito embora tenha contra-argumentado, bancando o advogado do
diabo, que Gonzação era chegado a colocar a sua assinatura em músicas dos
outros, comprando as composições ou simplesmente assumindo uma parceria que não
houvera. Isso, eu escutei da boca de um pandeirista de mão cheia e que já tocou
com grandes nomes da música popular pernambucana e brasileira.
Dizem
as más línguas que Jackson do Pandeiro, paraibano de Alagoa Grande, também
assim o fazia, tendo como vítima principalmente sua mulher, Almira Castilho. De
qualquer modo, Jackson era um grande intérprete, que domava e dominava a
melodia, dividindo os compassos com maestria e originalidade. Roubadas ou não,
suas melodias se impuseram e deram-lhe um lugar de merecido destaque na música
nordestina e na MPB.
Quanto
a Luiz Gonzaga, nascido numa sexta-feira, 13 de dezembro, na cidade de Exú, no
sertão de Pernambuco, ralou um bocado no Rio de Janeiro, tocando na zona e em
cabarés de baixa categoria até alcançar o sucesso. Nos anos 60, quase esquecido
pelo grande público e pela mídia, foi reabilitado pelos mestres do Tropicalismo,
Caetano Veloso e Gilberto Gil, com citações e regravações de alguns dos seus
antigos sucessos. Pra completar, o compositor carioca Carlos Imperial lançou a
notícia de que os Beatles, o famoso quarteto inglês, iria gravar a música Asa
Branca, em reconhecimento ao talento do seu Lua. Era a glória retornando com
força total.
Recife,
março 2015
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