O COENTRO
(POR VIOLANTE PIMENTEL) Bento
era fiscal da prefeitura de Nova-Cruz, casado com Mariana, com quem tinha três
filhos ainda pequenos. Era boêmio,
gostava de cantar e tocar pandeiro. Não abria mão das farras nos finais de
semana. Isso era motivo para brigas com a esposa, que era mandona e dominadora.
Muito
calmo, Bento aparentava ser submisso às
ordens da mulher, mas sempre fazia o que bem queria. Mariana tentava fazer o possível e o
impossível para afastar o marido da bebida e das farras. A mulher não suportava quando o via chegar em
casa embriagado.. As brigas eram constantes e as ameaças de separação
aumentaram da parte dela.
Por
causa disso, Bento procurou evitar as farras e o clima dentro de casa
melhorou. Num sábado pela manhã, a
mulher estava debulhando feijão verde para o almoço e pediu ao marido que fosse
ao mercado público comprar coentro para o tempero. Bento saiu para o mercado e,
ao passar pela casa do amigo Gilberto, parou para um dedo de prosa com ele e pai que acabara de chegar de Natal, para passar o fim de semana.
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Bento
foi comprar o coentro, mas na volta, ao passar novamente pela casa do amigo,
não se controlou, vendo os preparativos da farra que iria haver. No alpendre da
casa já estava formada a animada roda, com violão, cavaquinho, bandolim, afoxê
e tantã. Bento pegou o pandeiro, e logo a animação começou. Vários cantores e músicos amadores, e a festa
estava feita. Logo começaram as rodadas de cerveja, os tira-gostos, e o tempo
passou rapidamente.. A farra estava animada, e Bento, uma vez por outra, se
lembrava de que a mulher estava aguardando o coentro para temperar o feijão
verde.
Depois
de algum tempo, Bento só pensava em cantar, tocar e beber com os amigos. As
horas passaram rapidamente, e ele só foi chegar em casa às 21 h, completamente
embriagado. A mulher, braba que só uma cobra, partiu pra ele com um sapato na
mão, disposta a bater na sua cara. Antes
que o atingisse, Bento gritou:
- Tenha calma, jararaca!!! O que você me pediu
pra comprar está aqui, olhe! Tome!
E,
com muita dificuldade, tirou do bolso da calça o molho de coentro, completamente
seco e amarrotado!... A mulher armou o circo, e deu um verdadeiro escândalo com
o marido, esfregando –lhe na cara o
molho de coentro!
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