SORTE DE PRINCIPIANTE: CASO MENGELE
Era um plantão de fim
de semana normal, da Excelsior: o Heródoto recebe uma ligação avulsa às 6 da
manhã. Ao desligar, o homem chama a mim e ao Hélvio Borelli, que estávamos de
plantão e, com tom sério e de suspense, nos informa: “Temos um furo – foi
encontrado no cemitério do Embu das Artes, (Grande São Paulo) o túmulo de um
alemão que pode ser o de Josef Mengele” – tratava-se do ‘anjo da morte’, o
assassino nazista que eliminou milhares de pessoas durante a segunda guerra.
Era um sábado de um
dia bom, clima ameno e nenhuma grande manifestação ou evento pautado para o fim
de semana. Portanto, para nós, repórteres, era a possibilidade de fazer
matérias diferentes dos inevitavelmente boletins de tempo, trânsito, aeroporto
etc.
No meio do caminho, já
elaborando uma estratégia de cobertura, eu e Hélvio combinamos alguns
procedimentos. Lembrem-se: não sabíamos muito mais do que todo mundo em relação
ao personagem e não havia Google, buscadores etc. As lembranças foram de
oitiva, de leituras e filmes.
Ao chegarmos ao
morrinho onde fica a necrópole do Embu, já estavam a Polícia Federal, o
delegado Tuma, a polícia alemã e agentes do Mossab.
Nem eu, nem Hélvio
havíamos tomado sequer um cafezinho. Mais experiente, ele segurou a primeira
entrada (o furo) e as primeiras entrevistas e sugeriu, com generosidade, que eu
fosse fazer um lanchinho, antes de a coisa começar a pesar.
A sorte de iniciante
surge aí: ao descer para alcançar o boteco aberto aquela hora para tomar um
café com leite encontrei com um cidadão alto, já devidamente abastecido com a
primeira lapada do dia. Fechado, mas aberto àquelas perguntas “quebra-gelo”:
“que movimentação, hein. O senhor sabe o que está acontecendo?”
Pois bem, o cidadão,
com cara de gerente de cemitério era, de fato, o responsável pelo local.
Não dei muito tempo
para o recém conquistado amigo, puxei-o pelo braço para levá-lo até onde estava
nossa viatura, os microfones e o Hélvio.
A partir dali
começamos a conhecer a história com detalhes de investigação policial. O nosso
homem foi falando: “É de fato, até dois, três anos atrás, a cada mês um homem
vinha trazer flores para aquele túmulo que está cercado agora pela polícia. O
homem do cemitério tinha contato com o homem das flores, descrevendo-o como um
gentleman, mas muito calado. Entrava e saía, deixava uma caixinha e ia embora
como chegara. O nome do homem enterrado era Josef Mengele e o nome inscrito na
lápide era Wolfgang Gerrard, o homem que escondeu o nazista em São Paulo.
Esse foi o encontro de
um foca com a grande matéria, com direito a furo e detalhes. Sorte de
principiante.
Que sorte, e que furo!!!!!!! Parabéns!
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