quarta-feira, 7 de maio de 2014

PROFISSÃO: REPÓRTER – CASOS E PERIPÉCIAS

SORTE DE PRINCIPIANTE: CASO MENGELE



Era um plantão de fim de semana normal, da Excelsior: o Heródoto recebe uma ligação avulsa às 6 da manhã. Ao desligar, o homem chama a mim e ao Hélvio Borelli, que estávamos de plantão e, com tom sério e de suspense, nos informa: “Temos um furo – foi encontrado no cemitério do Embu das Artes, (Grande São Paulo) o túmulo de um alemão que pode ser o de Josef Mengele” – tratava-se do ‘anjo da morte’, o assassino nazista que eliminou milhares de pessoas durante a segunda guerra.

Era um sábado de um dia bom, clima ameno e nenhuma grande manifestação ou evento pautado para o fim de semana. Portanto, para nós, repórteres, era a possibilidade de fazer matérias diferentes dos inevitavelmente boletins de tempo, trânsito, aeroporto etc.
No meio do caminho, já elaborando uma estratégia de cobertura, eu e Hélvio combinamos alguns procedimentos. Lembrem-se: não sabíamos muito mais do que todo mundo em relação ao personagem e não havia Google, buscadores etc. As lembranças foram de oitiva, de leituras e filmes.

Ao chegarmos ao morrinho onde fica a necrópole do Embu, já estavam a Polícia Federal, o delegado Tuma, a polícia alemã e agentes do Mossab.

Nem eu, nem Hélvio havíamos tomado sequer um cafezinho. Mais experiente, ele segurou a primeira entrada (o furo) e as primeiras entrevistas e sugeriu, com generosidade, que eu fosse fazer um lanchinho, antes de a coisa começar a pesar.

A sorte de iniciante surge aí: ao descer para alcançar o boteco aberto aquela hora para tomar um café com leite encontrei com um cidadão alto, já devidamente abastecido com a primeira lapada do dia. Fechado, mas aberto àquelas perguntas “quebra-gelo”: “que movimentação, hein. O senhor sabe o que está acontecendo?”

Pois bem, o cidadão, com cara de gerente de cemitério era, de fato, o responsável pelo local.

Não dei muito tempo para o recém conquistado amigo, puxei-o pelo braço para levá-lo até onde estava nossa viatura, os microfones e o Hélvio.



A partir dali começamos a conhecer a história com detalhes de investigação policial. O nosso homem foi falando: “É de fato, até dois, três anos atrás, a cada mês um homem vinha trazer flores para aquele túmulo que está cercado agora pela polícia. O homem do cemitério tinha contato com o homem das flores, descrevendo-o como um gentleman, mas muito calado. Entrava e saía, deixava uma caixinha e ia embora como chegara. O nome do homem enterrado era Josef Mengele e o nome inscrito na lápide era Wolfgang Gerrard, o homem que escondeu o nazista em São Paulo.

Esse foi o encontro de um foca com a grande matéria, com direito a furo e detalhes. Sorte de principiante.


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