Era um sujeito
divertido, meio amalucado, pai de um grande amigo meu de juventude. Baiano dos
que falam pelos cotovelos, tinha quase 50 anos. Profissão: dentista. Seu forte
não era tratar canais nem fazer próteses. Segundo diziam no prédio em que todos
nós morávamos, sua especialidade era vender atestados médicos. Gostava de fazer
feira, mas tinha o péssimo hábito de esquecer mercadorias, peixe inclusive, no
porta-malas do carro. Ou seja: era rara a semana em que a fedentina não tomava
conta da garagem.
Uma noite, perto das
23h, passei em seu apartamento. Queria saber se meu amigo, seu irmão e mãe, já
haviam retornado da viagem à Bahia. Ele ficou feliz com minha presença, disse
que chegariam naquela madrugada, me convidou para ir com ele até a rodoviária.
Topei. Pra minha surpresa, pegou o sentido contrário, rumo a Penha. “Não se
preocupe. É que tenho que resolver um probleminha, coisa rápida. Dá tempo de
sobra. O ônibus sempre atrasa”.
Parou o carro em frente
uma casa de classe média, pediu que eu esperasse um pouco, vinha logo. Não me
restava fazer outra coisa: esperei. Do lado de fora, ouvi um bate-boca. Não
demorou muito, ele saiu, ligou o carro e partimos para a rodoviária. Sem que eu
nada lhe perguntasse, me mostrou uns óculos:
-- É da Leonor. Sem
óculos, ela não enxerga nada, não consegue dar aula. Peguei sem ela ver.
Amanhã, ela me liga. E a gente reata.
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