sábado, 24 de maio de 2014

CLÓVIS CAMPÊLO

NO TEMPO DOS SIMULACROS

Clóvis Campêlo



Mais de quarenta anos depois do fim do grupo, os Beatles ainda influenciam, de forma direta e indireta, artistas e consumidores no mundo inteiro.

Uma das provas dessa afirmativa é a existência dos numerosos grupos de imitadores da banda. Na cidade de Liverpool, na Inglaterra, seu lugar de origem, existe um encontro anual onde conjuntos do todo o mundo se apresentam para um público não só repleto de saudosistas, como também de novos e jovens admiradores. No mundo pós-moderno de hoje, a imitação pode ser um bom negócio.

Vivemos, aliás, o tempo dos simulacros. Superado o ideal da originalidade, implantado pelos sonhadores românticos de antanho, a cópia, desde que de boa qualidade, não deve mais ser reprimida. Pelo contrário, pode ser um bom e rentável negócio. Talvez não se trate mais da mimesis, onde o aprendiz de artista imitava o mestre até a exaustão e superação. Mas, simplesmente de reproduzir com fidelidade uma obra original e de grande aceitação pelo público consumidor. Existe um bom mercado para isso. Que os digam os artistas plásticos chineses que copiam com extrema perfeição e qualidade qualquer pintor ocidental de talento reconhecido. Que o digam também as dezenas de grupos musicais que imitaram e imitam os Beatles, ou as pessoas que imitaram e imitam o inesquecível Elvis, the pelvis.

Aliás, na modernidade dos anos 60, foi a originalidade do fabuloso quarteto inglês que o elevou à condição de superestrela do mundo pop. Desde essa época que proliferaram as imitações. Quem não lembra, por exemplo, que o som de Renato e Seus Blues Caps, intérpretes e tradutores brasileiros dos Beatles, durante um bom tempo, alimentou a musicalidade de várias gerações de jovens brasileiros? Posso afirmar até que aqui em Pindorama os boinas azuis cariocas eram mais cantados do que o original britânico. Coisas dessa deliciosa sociedade de consumo em que vivemos.




Hoje, findo o grupo inglês e impossibilitada a sua volta, haja vista as mortes de Lennon e Harrison, nada mais justo do que tê-los novamente através dos seus imitadores.

Além do mais, as novidades e transformações da arte não surgem a partir do nada. Elas nada mais são do que a condensação de novos a latentes anseios coletivos. A genialidade que não conseguir incorporar isso, passará despercebida como uma atitude demasiadamente adiantada para o seu tempo e que só será interpretada e decodificada a posteriori. São muitos os exemplos pertinentes a esse tipo de situação, seja na música, na literatura ou nas artes plásticas e artes em geral.

A genialidade pede sintonia e o artista protagonista nada mais será do que o instrumento dessa mudança. Nem sempre terá plena consciência do papel que cumpre e da sua importância nesse cenário de mudança.

Recife, maio de 2014



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