CONTEMPORANEIDADE E TRADIÇÃO FUNDEM-SE EM "LÊ", ÁLBUM DE ESTREIA DE LETÍCIA SCARPA
É bem provável que você deva ter ouvido o nome desta artista presente esta semana aqui em nosso espaço. Na televisão Letícia Scarpa já foi apresentadora da TV Cultura em programas como o "Vestibulando" e "Projeto Ipê"; na TV Bandeirantes em programas como o "Super Sessão Philco" e "Raio X do ABC"; no SBT atuou em novelas como "Éramos Seis" e "Pérola Negra", além da série Telecurso 2000. Em mais de 20 anos de carreira a artista participou também de diversas peças teatrais tais como "O Sonho de Alice" (musical infantil de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, dirigido por Tanah Corrêa, incluindo aí a gravação das canções) e "A Sauna", de Nell Dunn, (ao lado de Liana Duval, Imara Reis, Suzy Rego e Ísis de Oliveira, com direção de Wolf Maya) entre outras. Além disso, ainda figurou no filme "Meninos de Deus" e exerce a profissão de locutora, tendo um extenso currículo sempre procurando atrelar qualidade naquilo que faz. Talvez por esta razão Letícia é considerada uma artista completa, tendo como diferencial a dedicação plena aos trabalhos em que se envolve, trazendo consequentemente um tipo de excelência a esses múltiplos projetos por ela abraçados. Com a música e a poesia não poderia ser diferente, uma vez que as mesmas fazem parte do contexto da artista desde longa data. Não é de hoje que Letícia deixa-se envolver com poemas e composições, pois para ela é algo natural. Além disso a multifacetada Letícia estudou canto em locais como Instituto Magda Tagliaferro e Voice Centro de Educação Musical, onde fez também o curso de percepção musical, harmonia, improvisação, arranjo e composição. Isso talvez seja a justificativa mais coerente para explicar a segurança apresentada neste seu álbum de estreia.
Há de se levar em consideração que talvez o disco só tenha surgido agora por ser o resultado da plenitude de uma aptidão inata ao seu talento, onde o tempo foi precioso na maturação das ideias e melodias congênitas que só agora afloraram a partir deste álbum cujo título é a abreviação do seu nome: "Lê". Pleno de brasilidade, este primeiro álbum de Letícia Scarpa traz uma significativa amostra de toda a diversidade musical existente em nosso país, imprimindo em cada uma das faixas uma expressiva tessitura trazida a partir de suas vivências culturais mundo a fora; pois se existe um pessoa que pode ser considerada cidadã do mundo esse alguém chama-se Letícia Scarpa. De origem pernambucana e mineira, esta paulistana não só já andou pelos quatro cantos do mundo como também teve a possibilidade de em cada um desses lugares beber de suas respectivas fontes culturais, aglutinando e expondo a sua pluralidade pessoal a serviço da arte e da música como pode ser visto impresso neste disco. No entanto, sua incursões ao redor do mundo não impediram a artista de trazer em sua sonoridade os gêneros genuinamente brasileiros, ritmos estes que são capazes de nos regozijar o suficiente para entendermos que sua vivência cosmopolita não deixou que fosse perdido ao longo das estradas por qual passou as suas diferentes raízes, a sua essência. O álbum apresenta doze faixas que passeiam por sonoridades distintas, mas que ao mesmo tempo se completam nesse trabalho que traz em seu cerne um retalho de influências diversas, mostrando o retrato de um Brasil composto por uma pluralidade rítmica e cultural, seja nas composições da própria Letícia Scarpa ou na única canção que não faz parte da lavra da artista e é assinada por um de seus parceiros.
A faixa que abre o álbum ("Canto") mostra de cara uma miscelânea interessante e instigante, que vai desde o jogo de palavras que compõe uma letra (evidenciando uma estilística de repetição) até a atípica sonoridade da melodia (composta por bujão de gás, papel rasgado e amassado). A impressão que temos é que o ouvinte não consiga decifrar de fato aquilo que ela queira dizer ainda na primeira faixa, mas ao mesmo tempo percebemos que essa característica provavelmente servirá de chamariz e prenderá o ouvinte ao longo das outras faixas que compõem o disco. O álbum segue com "Zumbaiá" (Letícia Scarpa e Michele Wankenne), música que nos remete a mais genuína sonoridade produzida em nosso nordeste e conta com a participação especial do performático artista pernambucano Antônio Carlos Nóbrega. Na lavra das canções que trazem os recorrentes temas amorosos estão "Sublime" (Evaldo Tocantins, Michele Wankenne e Letícia Scarpa), "Ausência" e "Lá lugar nenhum" (ambas de autoria de Letícia Scarpa e Edu Maranhão), a primeira traz o amor sob a ótica da necessidade de vivê-lo em toda a sua plenitude, a segunda aborda o amor a partir da saudade enquanto a terceira traduz um amor quase infantil de tão terno. Por falar em infância, a canção que melhor nos remete a infância é "Balão" (Letícia Scarpa e Edu Maranhão) que em sua letra quase pueril traz uma singeleza interessante, nos trazendo uma gostosa sensação de reminiscência.
Já "Mulher de mil mulheres" (Letícia Scarpa e Edu Maranhão) presta uma singela homenagem ao sexo feminino e todas as especiais peculiaridades existentes dentro de cada uma que as fazem múltiplas. No álbum também há temas que recorrem à natureza como é o caso de "Temporal" de autoria do Edu Maranhão (única canção que não leva entre os compositores a assinatura da cantora) e "O canto do passarinho" de autoria única de Letícia Scarpa. Entre as três últimas faixas que fecham o disco estão "Colorindo estrelas" (Letícia Scarpa e Michele Wankenne) que recorre novamente ao amor como eixo central e os sambas "Blá bla blá" e "Toma lá dá cá" novamente de autoria da Letícia e da Michele. Um ritmo tão contagiante quanto o samba não poderia faltar nesse mosaico, apresentando-se de maneira vigorosa sob o aviso: "a roda de samba é grande cabe quem quiser entrar".
Na contextura do trabalho, além da Letícia encontra-se Edu Maranhão (produção, violões, programações diversas, bujão de gás, papel rasgado e amassado, pads, kazoo, coro, voz, triângulo, cabaça indígena), Peter Mesquita (baixos acústico, elétrico, com arco e fretless),Stanley (acordeon), Eduardo Macedo (flautas), Fábio Mauro e Leandro Brenner (violões e guitarras), Bruno Tessele (bateria), Fábio Sá (baixo elétrico), Digo do Cavaco(bandolim), Michele Wankenne e Rodrido Del Arc (coro), além de Alex Reis, Rafael y Castro, Júlio César, Kadu Fernandes e participação de Caito Marcondes nas percussões. Vale trazer ao conhecimento dos nossos leitores que as faixas desse álbum de estreia fizeram parte do playlist do programa "Som do Brasil - O melhor da Música Brasileira de Todos os Tempos", na rádio WKCR 89,9 FM de Nova York por um bom tempo. Sem contar que em 2012 o disco esteve entre os pré-selecionados da maior premiação acerca de música em nosso país, o Prêmio da Música Brasileira, atestando todas as qualidade da Letícia Scarpa enaltecidas aqui, reconhecendo um talento múltiplo o qual devemos dar boas vindas para o hall dos grandes talentos de nossa música.
Advindo do álbum de estreia duas composições: A primeira, trata-se de "O conto do passarinho", faixa autoral:
A segunda canção é "Toma Lá Dá Cá", parceria da dupla Michele Wankenne e Letícia:
Nenhum comentário:
Postar um comentário