ABSURDO FUTEBOL CLUBE
Embora diante dos
absurdos do mundo o poeta tenha dito que nada mais justificaria o uso do sinal
de exclamação, todos nós nos assombramos e emitimos interjeições de espanto com
a morte trágica do torcedor ao final do jogo entre o Santa Cruz e o Paraná. Que
impulso estranho e fatal o teria levado a sair de casa no intervalo de uma
partida que não envolvia o clube do seu coração para um encontro com a morte,
em uma noite de chuva intensa na cidade do Recife?
Segundo a imprensa,
como recomendou a polícia, a torcida do Santa Cruz foi a primeira ao deixar o
estádio ao término da partida. Só meia hora depois é que a torcida do
adversário visitante foi liberada. Mesmo assim, algum espírito maligno ousou se
ocultar em um dos banheiros do estádio para praticar o ato assassino. Como
explicar essa sanha mortífera em um simples jogo de um campeonato brasileiro da
Série B? São indagações interrogativas que insistem em nos inquietar a mente.
Se o Estatuto do
Torcedor fosse mesmo levado à sério, o Estádio do Arruda (e talvez nenhum outro
do Estado, com exceção da Arena Pernambuco) não teria condições de ser liberado
para nenhuma competição. Mas, tanto nos campeonatos estadual, regional e no
brasileiro foi vistoriado pelas entidades competentes e liberado para receber o
público. Isso nos leva ao entendimento de que os interesses políticos e
comerciais prevalecem diante das questões que garantam a segurança dos
torcedores.
Uma falsa questão e
que serviu apenas para causar impacto midiático e impressionar foi a proibição
da venda de bebidas alcoólicas nos estádios. Não se bebe nos estádios, mas
bebe-se nos seus entornos, muito embora não me pareça que essa seja a causa dos
desvarios. Pois se a bebida, que é uma droga permitida e que rende lucros e
renda aos clubes e ao Estado não é permitida, a maconha e talvez outras drogas
até mais perigosas são consumidas livremente nas arquibancadas. Não vejo
nenhuma atitude coibitiva ou mesmo de represália em relação a esse uso. Com
certeza, o louco sanguinário que arremessou o vaso do alto das arquibancadas
para atingir as pessoas que estavam na rua, não podia estar em seu estado
normal de lucidez.
O futebol hoje está
inserido no contexto da indústria do entretenimento. Muito dinheiro rola diante
de eventos que mexem com o equilíbrio emocional dos torcedores. A própria Copa
do Mundo é um evento de bilhões de dólares que não pode ser interrompida ou
prejudicada por fatores extrínsecos. A paixão clubística, em muitos momentos, é
estimulada de forma irracional e irresponsável. Todos sabem da força social e
econômica que o futebol representada no mundo atual. No entanto, transformar
tudo isso em mais um motivo para estimular-se a violência é absurdo.
As pessoas que estão
na minha faixa etária, lembram com saudade dos tempos em que podíamos
frequentar os estádios sem a necessidade de dividir-se as torcidas. É preciso
que se faça uma análise sincera e profunda para ver a partir de onde houve a
transformação maligna que transformou o esporte bretão em um campo de guerra e
de mortes.
Recife, 2014
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