LÁGRIMAS E TESTOSTERONA
Ele vivia furioso com
a mulher. Por, achava ele, boas razões. Ela era relaxada com a casa, deixava
faltar comida na geladeira, não cuidava bem das crianças, gastava de mais. Cada
vez, porém, que queria repreendê-la por urna dessas coisas, ela começava a
chorar. E aí, pronto: ele simplesmente perdia o ânimo, derretia. Acabava desistindo
da briga, o que o deixava furioso: afinal, se ele não chamasse a mulher à
razão, quem o faria? Mais que isso, não entendia o seu próprio comportamento.
Considerava-se um cara durão, detestava gente chorona.
Por que o pranto da
mulher o comovia tanto? E comovia-o à distância, inclusive. Muitas vezes ela se
trancava no quarto para chorar sozinha, longe dele. E mesmo assim ele se
comovia de uma maneira absurda.
Foi então que leu
sobre a relação entre lágrimas de mulher e a testosterona, o hormônio
masculino. Foi urna verdadeira revelação. Finalmente tinha uma explicação
lógica, científica, sobre o que estava acontecendo. As lágrimas diminuíram a
testosterona em seu organismo, privando-o da natural agressividade do sexo
masculino, transformando o num cordeirinho.
Uma idéia lhe ocorreu:
e se tomasse injeções de testosterona? Era o que o seu irmão mais velho fazia,
mas por carência do hormônio.
Com ele conseguiu duas
ampolas do hormônio. Seu plano era muito simples: fazer a injeção, esperar
alguns dias para que o nível da substância aumentasse em seu organismo e então
chamar a esposa à razão.
Decidido, foi à
farmácia e pediu ao encarregado que lhe aplicasse a testosterona, mentindo que
depois traria a receita. Enquanto isso era feito, ele. de repente caiu no
choro,um choro tão convulso que o homem se assustou: alguma coisa estava
acontecendo?
É que eu tenho medo de
injeção, ele disse, entre soluços. Pediu desculpas e saiu precipitadamente.
Estava voltando para casa. Para a esposa e suas lágrimas.
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