O DIA EM QUE QUINCAS SOLTOU A
LÍNGUA
(POR JOAQUIM MACEDO JÚNIOR) Numa ocasião, plantão de fim de
semana, fui cobrir o vestibular da Fatec, na praça da Polícia Militar. A
abertura das portas era às 8 da manhã, mas eu e Claudinho “Mãozinha”, excelente
operador e grande amigo, aportamos ali às 6 da matina.
Pauta tranqüila, cobertura padrão, um incidente ou
outro até que seria bem-vindo, porque era aquela matéria feijão-com-arroz, mas
que é de obrigação ser feita e já que é assim que seja feita como se fosse a
mais importante e complexa.
Com a eficiência de sempre, Cláudio começou a tirar
fios e mais fios de dentro do bagageiro do Chevette e danou-se a fazer
instalação em tudo o que é lugar. Para uma matéria com aquela demanda, o rádio
interno da viatura (era assim que chamávamos carro de imprensa) já daria para
fazer um carnaval. Local bem posicionado, som limpo, sem picote e assim por
diante.
Mas “Mãozinha” nesse dia estava com a gota.
Colocou-se em condições de cobrir um acidente aéreo, a perseguição de uma
ambulância a 120 km por hora, ou um coquetel com mais de cem celebridades
passíveis de serem entrevistas.
O homem subiu no poste de luz, em frente à FATEC,
fez as ligações necessárias, que me propiciaram falar com microfone com fio,
com microfone volante (ou seja com toda a mobilidade do mundo), além da famosa
comunicação interna, que chamávamos de motorolla, porque a marca superou o nome
do produto.
São 6h45 e deveria transmitir para duas emissoras:
a Excelsior-AM e a Globo-AM.
E sem entrar no ar, pegando uma ou outra
informação, fumando um cigarrinho, olhando o movimento.
Foi aí que a fera apareceu. Cláudio Rodrigues era
um cara fechado, mas muito educado. Além de educado, também era sincero.
Chamou-me para trás da viatura e disse: “Macedinho, meu querido. Você está com
a motorolla em ordem; tem microfone com fio, que tem mais qualidade e tem ainda
microfone volante para falar até com o comandante da PM que está ali do outro
lado da rua. Macedinho, meu filho, com todo o respeito, o que é que você está
esperando para entrar no ar, hein?”
Não vou comentar minha cara, pois não vale. Foi
um dos mais importantes e pedagógicos momentos que tive na carreira da
radialista. Obrigado, Cláudio. Daquele minuto em diante, não parei mais de
falar....
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