COMO É GOSTOSO O MEU PORTUGUÊS
Existe hoje, na língua
portuguesa falada e escrita no Brasil, uma grande confusão quanto ao uso
correto das palavras perda e perca.
A primeira, segundo o Aurélio
que me acompanha há décadas, trata-se de um substantivo feminino, que significa
ato ou efeito de perder, privação de alguma coisa que se possuía, privação da
presença de alguém, extravio, sumiço, prejuízos sofridos pelo credor em
consequência da diminuição do seu patrimônio, ou mesmo morte, desaparecimento
ou falecimento.
A segunda, ainda com
base na mesma fonte, nomeia um peixe acantopterígeo, de água doce, e de carne
muito saborosa. Mas, na linguagem popular e coloquial também pode significar
perda, prejuízo ou dano.
Ao mesmo tempo, ainda,
perca também pode se referir a uma flexão do verbo perder, no tempo
condicional.
Ou seja, talvez eu me
perca nesse texto ao achar que seria uma grande perda não perceber a
possibilidades dessas duas nuances.
A rigor, porém,
entendo que dentro da utilização da norma culta o termo perda seja mais bem
indicado na construção frasal. Entendo, no entanto, que sendo a língua uma
entidade viva e que se transforma ao longo do tempo no sentido de facilitar a
comunicação entre as pessoas e as instituições, nada impeça que o segundo termo
seja usado sem constrangimentos. Afinal, a língua é do povo como o céu é dos
satélites e dos intelsates.
E foi assim, submetido
aos ditamos da fala popular, misturando os dialetos locais com o latim vulgar
disseminado pelos romanos no continente europeu, que a língua portuguesa, a
última flor do Lácio, nasceu. E foi assim que ela também se modificou, depois
de formada, assimilando novas palavras e expressões nos lugares e países para
onde foi levada pelos portugueses conquistadores da Idade Média.
E ainda é assim, nos
tempos de hoje, que ela continua a se transformar e assimilar novas expressões
criadas por quem a fala e pelas novas necessidades oriundas das invenções e
transformações do mundo moderno.
Recife, 2014
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