Comes e bebes andam pela hora da morte. O pessoal
tem fugido do tomate como genro de sogra. As madames, sempre fazendo dieta,
evitam o fruto – e ainda aproveitam a carestia pra se exibir e fazer seu
discurso politicamente correto. “Pagar esse preço? Nem pensar, meu bem.
Dinheiro não me falta, claro. Mas sou solidária com os pobres”, discursa no
elevador a perua do 13º andar. Os pobres, sem ter com quem ser solidários e sem
dinheiro, miram sua ira no japonês da quitanda: “É um ladrão, sempre foi”.
Enquanto isso, os economistas vivem momentos de
glória: gastam mais tempo dando explicações que ninguém entende, exceto eles próprios, que fazendo contas. É
uma gente valorosa. Tem sempre explicação pra tudo. O governo faz como Maria Chiquinha: embrenha-se no mato, em busca de
alguma medida prazerosa que evite que a culpa do preço do tomate recaia sobre a
presidenta e seus dois neurônios. Cabe ao ministro da Fazenda fazer o papel de
mensageiro de um tempo ensolarado que, se depender de sua incompetência, não
virá.
Os mais entendidos colocam a culpa dos preços altos
na tal de sazonalidade, que o frentista do posto está convencido de que só pode
ser alguma sacanagem do prefeito. Os mais entendidos ainda vão além. “Não
podemos nos esquecer de que a inflação de demanda e a sazonalidade não explicam
tudo. Sem uma reforma tributária pra valer e mais investimentos em logística e
em infraestrutura, não há quem dê jeito no preço do tomate”, garantem os especialistas.
Dentre os que não entendem nada desse mundo fascinante da macroeconomia, há
quem defenda a solução por decreto: “É só incluir o tomate na cesta básica. A
‘mulher’ não mandou baixar o preço dos absorventes?”
O dono da banca de jornal – tido como um dos homens
mais bem informados do bairro, pelo acesso que tem às informações, vive cercado
de periódicos – dá de ombros às explicações que, segundo ele, não explicam
nada:
-- Querido, a coisa é simples. O governo tem que
aumentar o preço das mercadorias pra pagar os campos de futebol que está
fazendo para a Copa do Mundo. Em vez de chutar a bola, ele chuta os tomates, os
nossos. (abril de 2013)
Nenhum comentário:
Postar um comentário