No dia 24 de dezembro, há dez anos (tinha eu
dezoito), preparei-me tranqüilamente para passar o Natal em solidão. Chegara ao
Rio em setembro. Depois do período natural de dificuldades que todo provinciano
atravessa, começara a trabalhar numa revista. E agora estava ali, na redação,
terminando de escrever uma reportagem e pensando nas ruas festivas, onde
multidões faziam compras e em como seria bela a noite para os que tinham
parentes e amigos. O crítico cinematográfico da revista aproximou-se de mim e
disse:
"Olha eu sei que você não conhece ninguém no
Rio, de modo que quero convidá-lo para passar a noite no apartamento de uma
amiga minha. Ela vai dar uma festa para gente assim como você."
Tomei nota do endereço e ele disse: "Ao
chegar, é só dizer que você é o José Carlos, que ela já está avisada."
Às nove horas da noite, rumei para lá. Os sonhos
mais ardentes me dominavam. A moça dona da casa era linda e passaríamos a noite
dançando colados! Coisas assim; eu ia andando cheio de esperança. Diante do
apartamento, toquei a campainha e então fluíram segundos de espera ansiosa.
Abriu-se a porta: uma jovem linda, de vestido vermelho, surgiu à minha frente.
Atrás dela vi um corredor, e depois uma sala onde outras moças estavam
sentadas, uma das quais conversava com um rapaz. Da vitrola vinha uma canção
tristonha.
— Que é que o senhor deseja? — perguntou a moça.
— Eu sou o José Carlos.
Ao ouvir essas palavras, ela me olhou com expressão
indefinível: espanto, ou esquecimento, ou então não ouvira direito, o certo é
que ficou olhando fixamente o provinciano durante um minuto bastante penoso.
Finalmente, falou:
— José Carlos ainda não chegou. Com licença — e
bateu a porta na minha cara.
Meia hora depois, outra vez na rua, eu ainda não
sabia se devia rir ou chorar. Fui andando sem rumo, e afinal entrei no Alcazar,
sentei, pedi cuba-libre e comecei a encher a cara.
Muito bem meu Puto bomba ASS:Rui Vidal 1k
ResponderExcluirSiga para a frente meu cardozo
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