MORRER DEVE SER TÃO FRIO
Morrer deve ser tão frio,
solidão no cais do porto,
como as águas de um rio
desaguando num mar morto.
Fechando o início de um cio,
findando um trajeto torto,
alívio, talvez, desconfio,
depois, talvez, desconforto.
Talvez, quem sabe, um fio
cortando uma vida, aborto;
talvez, quem sabe, um envio,
o exílio de um rei deposto.
Morrer deve ser tão frio,
solidão no cais do porto.
CLÓVIS CAMPÊLO
Recife, 1994
HORIZONTE
Recife/PE, 2004
Fotografia de Clóvis Campêlo
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