ALGUMAS
NOBRES E OUTRAS PLEBEIAS
Dois tipos de razões me levam a
escrever: as razões nobres e as plebeias.
As plebeias são as tradicionais: fama,
dinheiro e mulheres.
Pensava que, como um escritor, teria um
pouco dessas três coisas, mas a fama de um escritor é irrisória perto da de um
razoável centroavante. O dinheiro é ridículo, se comparado ao que ganha
qualquer desafinado cantor de pagode.
E, quanto ao gemido das mulheres,
qualquer ator que tenha feito uma aparição na Globo é mais solicitado do que
eu.
Na verdade, até hoje só uma leitora
sorriu-me de um modo mais insinuante: uma senhora chamada Noemi. Muito
simpática, mas octogenária.
Há, porém, os motivos nobres.
Como tive muitos professores
humanistas, prendeu-se em mim essa idéia hoje tida como ridícula de que
"devemos lutar por um mundo melhor", hoje trocada por "devemos
maximizar os lucros".
Acho que escrevendo, posso, de alguma
forma, influenciar as pessoas. Posso fazê-las rir dos maus costumes e dos maus
personagens, posso fazê-las perceber um vício e exaltar uma atitude, posso
falar bem da honestidade e mal de Maluf e Pitta, posso falar bem da coerência e
mal da compra de votos pela reeleição, posso falar bem da coragem e mal da
aliança com o PFL.
Mas, na verdade, acho que nesse quesito
eu também apenas vou conseguir virar a cabeça de Dona Noemi.
Enfim, apesar do fracasso de minhas
motivações nobres e plebeias, não posso me queixar da sorte. O trabalho não me
deixa suado como um cantor de pagode, não levo pontapés como um centroavante e,
ainda por cima, ando pelas ruas despreocupado, sem temer que fãs puxem meus
cabelos ou tentem rasgar minhas roupas.
Se bem que, no lançamento do meu último
livro, Dona Noemi tenha me dado um beliscão na bunda.
(José Roberto Torero é autor de vários livros, entre eles “Chalaça”, que recebeu os seguintes prêmios: 1992 - Prêmio no Concurso Nascente, da Editora Abril e USP; 1994 - Prêmio Aplub, categoria romance; 1995 - Prêmio Jabuti de Romance e Livro do Ano.)
(José Roberto Torero é autor de vários livros, entre eles “Chalaça”, que recebeu os seguintes prêmios: 1992 - Prêmio no Concurso Nascente, da Editora Abril e USP; 1994 - Prêmio Aplub, categoria romance; 1995 - Prêmio Jabuti de Romance e Livro do Ano.)
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