http://letras.mus.br/miltinho/519964/ GRANDE ARRELIA |
Os que me conhecem pessoalmente sabem que as duas
características acima citadas – cara e pinta – eu tenho. E não é de hoje. O que
desde sempre serviu para fincar nesse coração vadio uma dúvida: “Serei um
palhaço”? Até aonde a memória alcança, foi uma tia quem plantou em mim a
semente da desconfiança. Ela ria de tudo que eu falava, fazia ou ameaçava fazer.
Dizia a todos que eu era um, por assim dizer, garoto divertido, brincalhão,
verdadeiro palhaço. Não via na sua falação (seria elogio?) maldade. Cheguei
mesmo a cogitar abraçar a carreira. Desisti, por razões que, agora, não vêm ao
caso. Só lhes dou uma dica: quem nos garante que o leão é, de fato, manso?
Nos últimos tempos, tenho recebido de diversos
amigos comentários exaltando meu suposto bom humor. Falam isso, dizem aquilo e
arrematam, nem sempre com a expressão definitiva: “Você é um palhaço”. Não me
ofendo, não. Muito pelo contrário. Sou lhes grato. Só tamanha generosidade os
leva a ver graça nas desgraças sem graça que escrevo. Mas, tais afirmações
(seriam elogios?) colocam novas pulgas atrás de minhas orelhas. E a pergunta
que não se cala volta à tona, revigorada: “Serei eu um palhaço”? Hoje, bem mais
do que ontem, entendo o dilema de Hamlet.
Agora, há os que, em não sendo tão amigos assim,
insinuam que não sou palhaço profissional coisa nenhuma (também nunca lhes
disse que era), que não passo de um sujeito atoleimado, um basbaque amador.
Tudo por que – dizem alguns, insinuam outros – rio de mim mesmo, das topadas e
tombos que levo: “Você é tão divertido. Você é, é, é... Você é um palhaço. Mas
por que ri tanto de si próprio”?
A resposta é óbvia. O sujeito pode ter cara e pinta
de palhaço, pode até ser palhaço. O que não significa que seja tolo. Rio de
meus tropeços, de meus desacertos e medos – antes que os outros o façam de
maneira estridente. Além disso, ante os obstáculos, não importa o grau, a
tristeza é a pior companhia. Melhor chorar quando dizem que o seu (de quem diz)
mar é de rosas ou o céu, de brigadeiro. Quem suporta um tédio desses? Nem
palhaço aguenta. (abril de 2013)
terias lugar no circo camarada, pois a plateia o salvaria em palmas
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