O Velho Marinheiro, nosso Lobo do Mar, entrou em
sua casa com o jornal embaixo do braço e cara de poucos amigos. Fez questão de
não cumprimentar ninguém. Foi direto para a edícula, misto de escritório e
depósito de quinquilharias. Ficou ali por mais de hora. Mafalda, companheira de
décadas, sabe que nesses momentos o melhor a fazer é não fazer nada. Só resta
esperar. Foi o que fez.
Pouco antes da hora do almoço, a fera apareceu na
sala segurando o jornal, sentou-se na poltrona, permaneceu mudo por bom tempo.
Seus olhos eram olhos de decepção e ira. Mafalda sabia que, a qualquer momento,
ele rasgaria o verbo. Foi o que se deu.
-- Não se pode acreditar em mais ninguém, minha
velha, em mais ninguém. Está, aqui, escrito com todas as letras no jornal: a
Marinha ia gastar R$ 234 milhões com salmão, uísque, queijo chique, cerveja e
produtos básicos, cujos preços eram muito superiores aos cobrados pelo varejo.
A que ponto nós chegamos! Só não comprou porque o jornal denunciou a
bandalheira antes.
-- Deixe isso pra lá, meu velho.
-- A Marinha está nas mãos de comunistas. Só pode
ser.
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