UM POUCO DE REDUNDÂNCIA, POR FAVOR!
Somos seres
miméticos. Aprendemos a viver assim. Repetimos gestos e ideias à exaustão. Do
beabá inicial aos discursos filosóficos transcendentais, somos repetitivos e
raciocinamos em bloco. A redundância nos redime.
Por isso, as
atitudes diferenciadas tendem a ser punidas e eliminadas. Constituem-se em
ameaça à continuidade das coisas. Até no jargão futebolístico, existe a máxima
de que em time que está ganhando não se mexe. Basta repetir-se e pronto, o
sucesso está garantido.
Exercitar o senso
crítico, portanto, não é nada fácil no mar de mesmices em que vivemos. Afinal,
para que nadar contra a corrente se o final sempre é o mesmo? Só os mais
inquietos, patologicamente inquietos, aventuram-se a tanto.
No entanto, se a
mesmice cansa e bitola, o excesso de novas informações também pode travar os
10% utilizados pela nossa cabeça animal. A novidade deve sempre ser servida em
doses homeopáticas, haja visto que o excesso deixa de ser remédio e
transforma-se em veneno. E, se não nos matar, vai jogar-nos no isolamento
temporal, do qual, em alguns casos, só se consegue sair depois da morte. Para
quem não acredita em reencarnações, aliás, o pós morte não serve para nada.
Finda a vida, findo o mundo, finda as palavras. O morto não pensa, não fala,
não discute mais e nem externa ideias ou ideais. O morto apenas se decompõe.
Aos vivos,
portanto, cabe a continuidade e a comunicatividade do mundo. E tome
redundâncias! Exercitar o senso crítico em relação a si mesmo e aos cosmos, no
mundo dos vivos, não é nada fácil, embora extremamente necessário na maioria
das vezes. Pensamos, logo existimos! Questionamos, logo resistimos! Até quando,
porém, acho que nem mesmo Deus sabe!
Como, apesar de só
utilizar 10% da sua cabeça animal, a espécie humana conseguiu evoluir e
sofisticar o ato de raciocinar, vive a contradição de ter de alimentar a
redundância para sobreviver nos níveis superiores da linguagem e de ter que
exercitar novas formas de informação para transgredir e evoluir. Assim caminha
e sempre caminhou a humanidade ao longo do tempo.
O homem sábio,
portanto, tenta exercitar o equilíbrio na vida, na linguagem e nas informações.
Hora tende para um determinado lado, hora para o outro, mas sempre com a
consciência de que tenta evoluir e ser entendido ao mesmo tempo. De nada
adianta o hermetismo ou o ludismo das invenções mirabolantes se o resultado
final for o desentendimento.
Os inventores e
artistas que tendem por esse caminho correm o risco de morrerem incompreendidos
e só serem decifrados e decodificados pelas gerações futuras e posteriores,
quando a contravenção se transformar em regra e consolidar-se como matéria
assimilada e incorporada ao modo de vida dos nossos sucessores.
Aos afobados
futuristas, portanto, eu peço um pouco de redundância, por favor!
Recife,
2014
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