LULA E DILMA EM CUSTÓDIA (PE) |
RADIOGRAFIA DE UMA FRAUDE (3)
A SUPERGERENTE
Os interlocutores de Dilma Rousseff acreditaram
durante muitos anos que falavam com uma sumidade em economia
Por Augusto Nunes
VEJA.COM – 16/05/2017
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva veste um chapéu de vaqueiro,
ao lado da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, durante encontro com
trabalhadores do Lote 11 e moradores da região do canteiro das obras da
transposição das águas do Rio São Francisco, no município de Custódia, em
Pernambuco.
A secretaria do governo gaúcho que pouco entende de minas e energia
virou ministra por que Lula entende menos ainda
Doutor em Física, com mestrado em Engenharia Nuclear, coordenador do
grupo que redigiu o capítulo sobre a área de minas e energia no programa do
candidato do PT, o professor Luiz Pinguelli Rosa já escolhera o terno para o
primeiro dia na Esplanada dos Ministérios quando soube que fora barrado no
baile. Por motivos ignorados tanto pelo quase ministro quanto pelos demais
integrantes da equipe de transição acampada no Centro de Treinamento do Banco
do Brasil, em Brasília, o cargo caiu no colo de Dilma Rousseff, filiada ao PT
gaúcho e secretária de Minas e Energia do Rio Grande do Sul.
O que teria levado o dono do time a alterar a escalação minutos
antes da entrada em campo?, intrigaram-se os Altos Companheiros. Lula só
desvendou o mistério semanas depois da festa de posse: “Já no fim de 2002
apareceu lá uma companheira com um computadorzinho na mão”, contou com a
placidez de quem está narrando uma história para crianças. Lá era o Centro de
Treinamento do BB. “Começamos a discutir e percebi que ela tinha um diferencial
dos demais, porque ela vinha com a praticidade do exercício da secretaria. Aí
eu fiquei pensando: acho que já encontrei a minha ministra”.
Simples assim. Se Dilma Rousseff era secretária do governador Olívio
Dutra, por que não promover a ministra a companheira do computadorzinho
portátil? O maior governante desde a chegada das caravelas entende de minas e
energia tanto quanto entende de gramática e ortografia. Como Dilma não entende
do assunto muito mais que o chefe, do que teriam tratado nas conversas a dois?
O que teria ouvido Lula para dispensar-se de consultas a especialistas no ramo
e pedidos de informações a quem a conhecia menos superficialmente?
Em 2007, ela resumiu em duas frases o que os dois conversaram: “O
presidente perguntou como tinha sido o apagão do Fernando Henrique no Rio
Grande do Sul, e eu contei que lá não teve apagão”. Mitômanos, quando não
mentem simplesmente, contam só um pedaço da verdade. Sim, os gaúchos não
tiveram de racionar energia em 2001. Nem os catarinenses e os paranaenses,
Dilma deixou de dizer. Como não faltaram chuvas, tampouco faltou água nos
reservatórios das hidrelétricas da região sul. Os três Estados escaparam das
medidas de emergência não pela competência dos secretários estaduais, mas pela
clemência da natureza.
Sem chances de concorrer com quem derrotara até o apagão, restou a
Pinguelli conformar-se com a presidência da Eletrobrás. Caiu fora em pouco
tempo para afastar-se do crônico mau humor da ministra. “Essa moça formata o
disquete a cada semana”, ironizou. “Nunca tive simpatia pela maneira como Dilma
trata as pessoas”, diz o professor Ildo Sauer, demitido pela ministra da
Diretoria de Gás e Energia da Petrobras. “Ela não conversa, só dá ordens. Mas é
um doce com quem está acima dela”. Como a guerrilheira obediente aos comandantes
dos grupos clandestinos, como a mulher dócil no trato com os maridos, como a
secretária que nem piava nas reuniões do governo gaúcho, a ministra sempre sabe
com quem está falando.
Os interlocutores de Dilma Rousseff acreditaram durante muitos anos
que falavam com uma sumidade em economia. Em 2005, transferida do Ministério de
Minas e Energia para o gabinete do qual José Dirceu fora despejado pelo
mensalão, o site da Casa Civil manteve no currículo oficial duas informações
fraudulentas que enfeitavam a biografia da nova chefe. Ali se lia que Dilma era
mestre em teoria econômica pela Universidade de Campinas (Unicamp) e doutoranda
em economia monetária e financeira pela mesma universidade”. Nunca foi nem uma
coisa nem outra, descobriu a imprensa em julho de 2009. Ela jamais pediu
desculpas pela trapaça.
Num e-mail endereçado a amigos, Ildo Sauer confessou que foi uma das
vítimas da vigarice forjada pela doutora em nada. No fim de 2002, os
integrantes do grupo de energia do Instituto Cidadania, vinculado ao PT,
entregaram seus currículos atualizados à direção da entidade. Sauer leu o
apresentado por Dilma e, bem impressionado, quis saber se tinha concluído o
curso de doutorado. Diante da resposta positiva, perguntou se Dilma toparia
participar da banca que examinaria a tese de um candidato a doutor. “Não tenho
tempo para essas coisas”, recusou com rispidez a convidada.
“Hoje compreendo”, disse Sauer na mensagem pela internet. “O
desprezo e o desdém eram ferramentas para encobrir a impostura… Há outras”. Quais
seriam? Sauer acha que ainda é cedo para divulgá-las. “O que já se sabe é
suficiente para mostrar que Dilma não é nada do que se imaginava”, explica.
Dilma Rousseff é só uma fraude.
A supergerente também achou conveniente omitir da biografia oficial a
experiência de um ano e cinco meses à frente da Pão & Circo, loja de
bugigangas localizada na região central de Porto Alegre, com filial no centro
comercial Olaria, também na capital gaúcha. Registrada para comercializar
“confecções, eletrônicos, tapeçaria, livros, bebidas, tabaco, bijuterias,
flores naturais e artificiais, vendidos a preços módicos”, como descreveu uma
reportagem da Folha em agosto de 2010, a empresa tinha como forte os brinquedos
– “particularmente os dos ‘Cavaleiros do Zodíaco’”, animação japonesa sobre
jovens guerreiros que fez sucesso nos anos 1990.
Ao lado da ex-cunhada Sirlei Araújo, Dilma viajou ao Panamá “umas
duas ou três vezes” — contou Sirlei — para escolher as mercadorias, que eram
despachadas de navio até Imbituba (SC) e seguiam depois por terra até a capital
gaúcha. Também participavam da sociedade Carlos Araújo, ex-marido de Dilma, e
um sobrinho, João Vicente.
Os comerciantes mais antigos do Olaria, lembravam perfeitamente do
fiasco. “A gente esperava uma loja com artigos diferenciados, mas, quando ela
abriu, era tipo R$ 1,99. Eram uns cacarecos”, recordou Bruno Kappaun, dono de
uma tabacaria no local. “A loja era mal-acabada, com divisórias de tábua, um
troço rústico. E, claro, não entrava ninguém ali”, disse Ênio da Costa
Teixeira, proprietário de uma pizzaria. Um terceiro comerciante, André Onofre,
acha que a loja não teve viabilidade econômica porque as “bugigangas” eram
“muito baratas”. “Foi uma experiência. Acho que ela não era do ramo”.
Sirlei contou que Dilma cuidava sobretudo da contabilidade e das
vendas. A presidente que inventou o Ministério da Micro e Pequena Empresa,
levou menos de dois anos para falir o próprio negócio.
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