AMOR À PRIMEIRA
VISTA
(Por Clóvis
Campêlo) Desde pequeno que sempre gostei de futebol.
Diziam que eu levava jeito para jogar, ao contrário do meu irmão mais novo,
Carlinhos, que era completamente desengonçado com a bola nos pés. Acho que
herdou a inabilidade paterna.
O meu pai nunca gostou de futebol. Contava que a sua única e frustrada
tentativa de praticar o esporte bretão se dera na juventude, em Jaboatão dos
Guararapes. Escalado para jogar de zagueiro, deu uma furada hilariante na
primeira bola que veio em sua direção, enganando o goleiro do seu time e
abrindo caminho para a derrota. Foi tirado do time e nunca mais voltou a jogar.
Assim dito, fica plenamente compreensível que eu tenha precisado
buscar outras alternativas para alimentar e expandir a minha paixão
futebolística.
Jogar, eu jogava na Rua Jeremias, na praia do Pina, no areial do
Aeroclube, numa época em que os espaços urbanos livres ainda permitiam isso. Ir
aos estádios, porém, era diferente. Ainda menino, precisava de alguém para me
acompanhar. A solução era apelar para os meus tios maternos, Luís e Maurício,
ambos torcedores do Clube Náutico Capibaribe.
Para desespero deles, no entanto, não segui o caminho por eles
trilhado de torcer pelo clube alvirrubro pernambucano. Bastou-me ver o Santa
Cruz entrar em campo, nos Aflitos, numa tarde ensolarada de domingo, para
perceber que aquele era o clube do meu coração. Meus tios esmoreceram,
desanimaram. Haviam reforçado o inimigo. Nossos caminhos futebolísticos se separavam ali, nas
arquibancadas da vida.
Meu tio Luís não jogava nada. Mas Maurício era habilidoso. Atuava no
Botafogo do Pina, time suburbano organizado e mantido pelos filhos do tenente
Beltrão. Morávamos na mesma rua, éramos vizinhos. Descubro, feliz, que o
tenente Beltrão torcia pelo Santa Cruz. Mais do que torcedor, aliás, era sócio
patrimonial e não perdia um jogo. Estava resolvido o meu problema. A partir
daquela data, passei a integrar a comitiva coral que saia da Rua Jeremias, em
dias de jogo, a bordo de um Buick azul, rumo aos estádios do Recife.
Naquela época, no início dos anos 60, o Santa Cruz ainda não tinha o
Estádio do Arruda, que só viria a ser inaugurado em 1969. O jeito era ver o
time jogar na Ilha do Retiro e nos Aflitos, estádios alheios.
Só fui a um estádio de futebol com o meu pai pela primeira vez em
1972, no Arruda, durante a Copa Independência, realizada no Brasil pela
Confederação Brasileira de Desportos para comemorar a conquista do tri mundial,
no México, dois anos antes.
Não vimos a seleção brasileira atuar, mas chegamos a ver a seleção
do Irã, vestindo a camisa gloriosa do Santa Cruz, enfrentar a Irlanda, num
empate de 2x2.
Para mim, foi um momento de grande felicidade.
(Da série Crônicas Recifenses - 16/02/2012)
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